A COUVE
Na publicação deste blog relativa ao início da colecção a que chamei Leguminarium, a qual estou a desenvolver para a Maria Cidrão Delicatessen, caracterizei o carácter primordial da relação entre referentes orgânicos vegetais e o meu despertar para as potencialidades do desenho artístico.
Nesse texto referi a relevância dos trabalhos que fiz em torno das folhas e nervuras de uma couve portuguesa, na cadeira de DESENHO I, em Belas Artes.
O fascínio visual inspirado por essas formas permanece, e o contentamento com o resultado desses trabalhos iniciais trouxe-me por muito tempo com vontade de regressar ao tema, e de retomar a a exploração das suas possibilidades.
Na visita ao espaço museológico da Sagrada Família, em Barcelona, fiquei maravilhado com a maquete invertida que Antony Gaudi fez do seu projecto da futura catedral, na qual estudava e testava a geometria das linhas de força através de uma intrincada teia de pesos suspensos por cordéis.
No meu referente verde, talos e nervuras desta obra orgânica, são como essa teia de cordéis distribuidores das forças. As curvas e contracurvas das vilosidades das folhas, são como as cúpulas e abóbadas estruturantes na sustentação do peso, resultante do comprimento dos enormes planos de tectos/folhas-verdes.
Os requisitos estruturais destas dinâmicas de forças, dão origem a um desenho carregado de proeminências e depressões formais, repleto de sombras e cavidades obscurecidas.
Tudo isto originou então (na colecção da couve portuguesa), e origina agora (nesta couve lombarda), representações repletas de jogos de luz sombra, que se me afiguram, só por si, visualmente muito ricas.
Da minha estadia em Belas Artes até à actualidade, a experimentação com o uso da cor levou-me a eleger a utilização da cor digital, com a sua, para mim fascinante, total homogeneidade, como recurso cromático exclusivo.
A actual colecção encontra-se embebida nessa conjugação – desenho de alto contraste a preto sobre papel branco, com cor digital adicionada. A linguagem que uso para as minhas ilustrações.
A minha catedral de bio engenharia orgânica é então avivada com a aplicação de mantos cromáticos homogéneos, divididos em territórios bem delimitados de nuances autónomas de verde, nos quais sombras e brilhos aprofundam e afloram formas elaboradas.
A totalidade dos trabalhos estará visível no meu blog geminado, aqui ao lado (prazeressaias.blogspot.com), dedicado ao trabalho de desenho-como-um-fim, com informação de medidas, e noção de escala.
Para a divulgação deste trabalho em algumas plataformas, criei uma animação.
Dediquei-me novamente à composição de uma faixa musical para essa animação, e mais uma vez constato que essa fase do processo produz em mim o mesmo entusiasmo que encontro na composição do desenho.
Satisfação dupla e gratidão múltipla.
E agora… é hora de fazer a sopa.
No comments:
Post a Comment