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Friday, January 6, 2023

[ Egoísta MARIA ]


(click na ilustração para ampliar )

O tema da última edição de 2022 da Revista Egoísta é, "Maria".
O facto de este ser o tema da edição cuja publicação acontece na época de natal não é coincidência, mas, a editora, Patrícia Reis, definiu uma abrangência interpretativa muito ampla, e, no generoso convite que me dirigiu, deixou bem claro que a exploração dos domínios dessa amplitude seria muito bem vinda.
Assim fiz…
Ainda enquanto falávamos, já a minha mente vagueava (embora ainda sem formas definidas), pelas franjas da fronteira exterior do universo representativo possível.
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No meu modesto entendimento…
A ideia de que Deus é uma entidade masculina está errada.
A ideia de que Deus é uma entidade feminina não está certa.
A ideia de que a masculinidade e a feminilidade têm muros largos e intransponíveis a delimitá-las é um conceito bafiento do passado, e tem os dias contados.
O futuro da evolução da consciência compreende tudo isso, e estará verdadeiramente focado na qualidade moral dos sentimentos e atitudes, mais do que na conformidade de comportamentos com os desígnios físicos da fórmula reprodutiva primordial. Macho e fêmea unidos para a multiplicação.
Esse foco na qualidade moral de sentimentos e acções, advém da aproximação da existência humana à realidade espiritual… além-véu.
Trata-se do tal caminho percorrido pelo homem-macaco, da escuridão da caverna para a luz, por trilhos de aperfeiçoamento espiritual. Esse caminho tem duração multi-milenar, e a evolução é trans-geracional, estando repleta de avanços e recuos, pausas e recomeços. Idealmente, em potência, esse caminho permitir-lhe-á ambicionar à existência desmaterializada, em harmonia com o resto da criação, sem género, nem espécie, nem raça, nem forma, nem tempo. Todas as pequenas centelhas constituindo a grande luz.
*
No gnósticismo, Barbelo surge da emanação do pensamento de Deus.
É de Barbelo que tudo nasce.
Barbelo é uma entidade feminina.
Ela é Barbelo. Nos textos gnósticos aparece referida como Metropator, ou seja, Mãe e Pai (do grego), em simultâneo.
É um conceito difícil de assimilar, para quem, como nós, luta com a evolução física do corpo, no seu deslizar suave ao longo da linha em parábola invertida, fazendo o dia a dia a correr para o autocarro, com a roupa molhada, à chuva, diminuindo contas mentais para pagar gás, electricidade, casa, e, comida para alimentar a próxima geração…
Torna-se um pouco mais fácil de assimilar, se tentarmos focar-nos na existência espiritual, a qual é na sua essência livre das limitações da matéria, da idade, ou do género, e, está apenas temporariamente pousada, sob o rosto velho do corpo velho e adormecido que, no lugar ao lado do nosso, no tal autocarro, cede ao cansaço, no embalo de mais uma viagem para casa. Aquele corpo velho é o de uma criança. Aquele corpo de homem é também, em espírito, mulher. Podíamos ser nós. Podia ser de alguém da nossa família de luz.
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A minha ilustração não é sobre Deus, não é sobre Ela… Barbelo… não é sobre homens nem mulheres, machos ou fêmeas, nem sobre a espécie do homem-macaco, nem sobre os espíritos de luz… é sobre… "Maria".




Por algum estranho desígnio, ando já há algum tempo adepto de criar também a música para as minhas animações… Estou especialmente satisfeito com o resultado desta. É bom sentir que, à semelhança do que sucede com alguns desenhos, sou apenas veículo… em vez de autor. Aqui, foi esse o caso.

… muito, muito grato… a Maria.