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Wednesday, January 12, 2022

[ All you can eat… ]


POST SOUNDTRACK
https://www.youtube.com/watch?v=t11PTeizrhs

Donald Trump não gosta de Greta Thunberg. Facto abonatório a favor de Greta Thunberg.

A frase "We need some global warming in here" ficar-me-á gravada na memória, bem juntinho à inesquecível "Grab'em by the pussy". 

Vinda do presidente americano que proferiu estas barbaridades, qualquer injúria soa a elogio… qualquer hostilidade soa a louvor.

Na frágil figura de Greta adolescente, o que mais incomodava Trump era a sua postura crítica. Na verdade, não era só a Trump que a postura crítica de Greta incomodava. Para muitos já então adultos, era insuportável a mera confrontação por parte de uma criança, a qual, ainda para mais, activamente pregava aguçados raspanetes à população de "crescidos", responsável pelas decisões relevantes para os destinos do mundo.

Mas essa atitude de Greta, carregada de arrogância motivada por uma revolta tal, que por vezes quase a leva ao choro irado e muito dificilmente contido à porta de uns lábios trémulos, apenas traduz a real urgência das mudanças que tínhamos (temos) que fazer… no curto espaço de tempo em que estas têm que ser feitas. Essa revolta contida traduz a sua perplexidade com a cegueira voluntária e selectiva que já então identificava numa população que empurra, através das suas opções diárias, o seu próprio planeta para o ponto de não retorno da insustentabilidade climática, e, por ignorância, ainda não se apercebeu de que isso vai mesmo ser uma tragédia para si e para a sua descendência.

A criança Greta Thunberg (hoje com 19 anos), cedo teve a noção dessa urgência. Cedo teve a noção de que o equilíbrio ambiental do seu futuro lhe estava a ser roubada, e decidiu agir. Abdicou das suas idas à escola, e converteu o seu tempo útil de jovem menina, em tempo de protesto e chamada de atenção de âmbito mundial, para um tema ignorado pela esmagadora maioria dos passageiros deste planeta.

Na espécie humana, o estabelecimento no indivíduo, da consciência e da capacidade crítica abrangente, faz-se muito tarde. Demoramos muito tempo a aprender o básico, e a experimentá-lo. Normalmente só lá para o fim da adolescência (sendo benévolo e optimista) é que desenvolvemos a capacidade de nos posicionarmos criticamente perante aspectos outros que não apenas os ligados à nossa sobrevivência… à nossa egocêntrica pequena esfera de subsistência. Quando começamos a atingir essa maturidade, somos sugados por uma teia de preocupações e interesses secundários, fáceis de digerir e propiciadores de grande prazer imediato, mas de curta duração, preocupações essas que nos mantêm adormecidos para as grandes questões, por muitos mais anos, e, eventualmente para o resto da vida.

Muitos de nós, a meio do caminho, encontramo-nos já de tal modo submersos e entorpecidos, que as grandes questões da existência apenas conseguem despertar em nós, riso, e afiguram-se-nos apenas como temáticas para gozo e ridicularização.

O nosso dia-a-dia é de tal modo preenchido com a satisfação dos pequenos desafios, solicitações e artificiais necessidades, resultantes da nossa existência nas sociedades modernas, que, não nos sobra sequer tempo para contemplar os aspectos próprios de uma outra forma de existir… mais profunda.

No entanto, nesse estado, permanece firme em nós a noção interiorizada de que estamos no rumo certo da vida adulta… sabemos o que estamos a fazer, e dominamos as variáveis.
Nessa altura, normalmente reproduzimo-nos.

Foi assim chocante, para muitos, que uma pirralha mimada que não sabia ainda o que era a vida,  tivesse tempo de antena no púlpito das Nações Unidas, e, viesse aí perguntar "How dare you?"… Essa pergunta retumbou por uns tempos na consciência de alguns de nós. Apanhou-nos como se de um murro se tratasse. Antes de conseguirmos formular uma resposta, recuámos três passos com o impacto…

Estamos no mundo como se a terra não rodasse em torno de um eixo, mas sim de um espeto… Comportamo-nos como estando num verdadeiro rodízio, em que podemos servir-nos sem limites, até saciarmos a nossa insaciável vontade. 
ATENÇÃO: O nosso apetite, hoje e ainda, é para "all you can eat"…

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