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https://www.youtube.com/watch?v=YF1eYbfbH5k
Estes dois senhores ilustram, a 4 mãos, uma página do novo manual de Filosofia da Porto Editora, para o 10° ano. O livro tem como título “Em Questão _ 10”, e eu tive o enorme prazer de contribuir para a sua construção com alguns dos meus bonecos.
Estes dois cidadãos fazem um número em conjunto, articulando-se em zonas diferentes da mesma página, e as suas acções completam-se narrativamente.
Proponho que, ao de baixo chamemos visionário iluminado… ao de cima céptico patológico.
Em vários momentos da história da espécie Homem-macaco – a nossa, pois claro – puderam os espectadores desta épica novela com episódios de duração multimilenar, assistir ao desenrolar de dramáticas cenas de ruptura com as ideias então vigentes na acção dos tempos em causa. Essas rupturas foram protagonizadas por algumas personagens visionárias iluminadas, e, em clara colisão frontal com o papel de algumas personagens cépticas patológicas.
Num primeiro momento, como que em ar de primeiro recurso reactivo, a maioria dos segundos, dirigiu aos primeiros, a tal animação digital, consistente na deslocação de apenas um dedo (o indicador), descrevendo um pequeno círculo com rotação em sentido horário, num movimento ligeiramente afastado da cabeça, ao longo da linha de perímetro de uma das suas próprias têmporas.
… maluco, … louco, … tolinho (entre outros possíveis e eventualmente menos cândidos adjectivos).
Em alguns desses casos, a coisa acabou por correr muito mal para os visionários iluminados neles envolvidos.
Quando aconteceu alguns dos cépticos patológicos estarem sentados em tronos de poder – ou por vezes, tão somente rastejarem ao seu redor – desses cadeirões terão chegado a ser proferidas sentenças de morte.
Diz quem estuda estas coisas, que este tipo de reacção extrema de aniquilação do outro que tem ideias diferentes, aponta no sentido da incapacidade estrutural da personalidade de alguns, para conviver com a diferença desses outros, sendo essa incapacidade desenvolvida nas fases primeiras da formação da estrutura moral do indivíduo. Infelizmente, ao longo da história, essa incapacidade de alguns, tem estado presente em demasiados casos bicudos da diversidade humana.
Assim se explica, evidentemente, o aparecimento de vários …ismos e …fobias.
Se do lado dos cépticos patológicos se encontra a cegueira, a intransigência, e por vezes mesmo o derramamento de sangue, do lado dos visionários iluminados estão, com muita frequência, os grandes progressos morais, sociais, e científicos. Posto assim, é fácil escolher qual dos grupos de seguidores não engrossar.
A frequência com que, ao longo da história conhecida do homem-macaco, esta dualidade antagónica eclodiu, com consequências mais ou menos trágicas consoante a elevação de valores e a lucidez dos intervenientes, permite talvez concluir que este processo fará mesmo parte das características do movimento de progressão da espécie.
Mas uma outra perspectiva parece emanar desta análise… A da fragilidade das certezas.
O objectivo desta linha de raciocínio não é o de advogar a negação permanente das ideologias tidas como materialidade do conhecimento… É sim, a defesa de uma maior disponibilidade para considerar perspectivas alternativas, estruturantes de novas materialidades, eventualmente conducentes a uma maior solidez das áreas de conhecimento a que se referem.
Frequentemente, estas novas perspectivas implicam a ruptura de todo o tecido teórico e argumentativo das concepções anteriores, mas, imediatamente (ou a mais longo prazo), permitem a subsequente elaboração de uma construção ainda mais forte, e mais abrangente.
Ei-lo então a dar-se… o progresso (a progressão).
É altamente apelativo o conforto da cosmogonia instalada.
Como é incómodo o abanar dos seus alicerces.
A fatia da humanidade que se move na dianteira moral da espécie, já percebeu, contudo, que não pode enforcar ou queimar pessoas na fogueira, ainda para mais por terem meramente ideias diferentes das suas “certezas” (cosmológicas, religiosas, raciais, sexuais, políticas, etc.). Já percebeu também que, não raras vezes, veio a verificar-se que as vítimas dessas tentativas bárbaras de anulação de pensamento, estavam afinal certas na sua argumentação, ou, tão simplesmente, constatou que, independentemente da ideologia defendida pela vítima, estava então nesses momentos, a restante comunidade, totalmente apartada da bendita razão, tendo então esses actos, sido motivados apenas pela mais abjecta intolerância à diferença.
Na verdade, após considerar a história da evolução das ideias estruturantes, a única postura lúcida a adoptar, é a da permanente disponibilidade benevolente para analisar propostas alternativas a tudo e mais alguma coisa… desde que estas estejam devidamente fundamentadas.
Aqui, de onde contemplamos o estado actual do panorama humano, essa evidência é impossível de ignorar.
Na minha qualidade de criador de imagens, proponho-me agora ilustrar brevemente este raciocínio… ainda que com letras em vez de traços.
Do passado chegam ecos que obrigam a reformulações frequentes das certezas históricas actuais.
Exemplo: Muitos cépticos patológicos sofreram convulsões quando em 1995, Klaus Schmit descobriu Göbekli Tepe, na Turquia, vendo assim fortemente abaladas as "certezas" sobre a pré-história da humanidade, e fazendo recuar em milénios, o início do megalitismo elaborado, e consequentemente, vários aspectos estruturantes das comunidades humanas complexas.
Que outros alicerces históricos irão ainda abanar ou ruir, quando Sacsayhuaman, Ollantaytambo, Puma Punku, Tiwanaku ou Balbek revelarem os seus segredos?
Quanto teremos ainda que mudar nas nossas certezas relativas ao passado da humanidade?
Há claramente que manter a mente aberta.
Escrevo estas linhas muito pouco tempo depois da divulgação do mais recente relatório da IPCC (The Intergovernmental Panel on Climate Change). O futuro climático está a bater-nos à porta… mas… com um martelo pneumático. Aqui, em matéria de abanão a certezas instaladas, não estou a considerar as discussões sobre a existência ou não de uma relação entre as alterações climáticas e a acção humana… Parecem-me assumir uma relevância mais produtiva, as considerações sobre a necessidade de uma nova ordem mundial que encare os graves problemas de certas partes do planeta, como aquilo que verdadeiramente são, ou seja, problemas e desafios de âmbito global, e não apenas local (restritos à localização geográfica da sua origem). Essa concepção tem que ser cega a fronteiras, raças, economias e credos… Acredito que o nacionalismo do futuro terá forçosamente que ser apenas cultural, e que, a fundamental concertação de políticas direccionadas para o interesse e solidariedade globais, irá eventualmente conduzir a humanidade a algo muito próximo do governo comum, com todos os desafios que isso representa, e do qual a União Europeia é um modesto tubo de ensaio.
Mas as oscilações climáticas não são novidade neste planeta, e, como é bem sabido, não pertencem apenas ao nosso futuro. No entanto, as "certezas" sobre os contornos da sua amplitude no passado, parecem carecer de mais definição.
O grande dilúvio, referido por aproximadamente 150 culturas da antiguidade, até aqui mantido com toda a "certeza" no domínio das narrativas mitológicas, poderá brevemente ser decalcado para o registo histórico, pelo fenómeno conhecido por “Younger Dryas”. Parece ser este o evento responsável pelas gigantescas cicatrizes terrestres, associadas às transferências de estado físico de boa parte da água presente no planeta, oscilando entre glaciação e alagamento, e provocando eventos dramáticos como a extinção da megafauna planetária.
Gigantescas mudanças climáticas operadas em muito pouco tempo… Graças ao relatório da IPCC esta fórmula já não é estranha aos vulgares cidadãos das comunidades humanas da actualidade, não é?
Mas, como já bem sabemos, o registo histórico é propício a este tipo de novelos. Avanços, retrocessos e realidades que se repetem.
Perdida que está essa coerência, vou então abraçar e aprofundar a confusão, não resistindo a mais um exemplo de um potencial gigantesco abalo a certezas instituídas… desta vez de carácter transversal, no que diz respeito a foco temporal. Este abalo materializa-se no já famoso USS Roosevelt Gimbal vídeo e tem réplicas nas respectivas conclusões daí emanadas. Quantas das nossas certezas sobre passado, presente e futuro estarão aí em risco de ruir?
Cépticos patológicos… buckle up your belts…
… Esse indicador direito vai ter ainda muito que rodar… Assim haja tempo.