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Wednesday, December 9, 2020

[ Tributo a #Warpaint ]


Chegou o meu balanço anual de reprodução de música no spotify.
A encabeçar a lista de músicas por mim mais ouvidas durante este fatídico 2020, e admito que sem grande surpresa, está esta música:
Billie Holiday da banda Warpaint.
Um pouco em jeito da personagem a que John Cusack veste a pele (com proeminente distinção… diga-se), no fantástico filme Alta Fidelidade (Stephen Frears, 2020, com argumento de Nick Hornby), também eu sofro da maleita obsessiva de construção de playlists. Num grau menos agudo, é certo, mas ainda assim, com uma gravidade tal que o colapso do meu ipod classic de 120GB, foi para mim nada menos que devastador.
Após esse primeiro grande evento destrutivo, no qual vi perderem-se para sempre, horas e horas de fantásticas playlists criteriosamente construídas, sucederam-se várias tentativas de reconstituição desses belos e coerentes alinhamentos musicais, entremeadas com vários episódios de repetido colapso de disco e sistema operativo do famigerado aparelhinho. Ainda hoje, volvidos aproximadamente oito anos guardo a sua embalagem original, vazia, um pouco em ar de urna para cinzas de cremação. 

Acabo de desviar o olhar ligeiramente para a esquerda do meu ecrã, vendo a dita embalagem, perfilada na minha mesa de trabalho…  : (

No meu disco externo existe desde então uma pasta a que chamei "reconstituição de playlists". Nessa pasta guardo religiosamente print screens dos alinhamentos musicais que construí após o "dia do grande colapso". Graças a este nível metodológico foi-me possível replicar recentemente na minha conta de spotify muitas das minhas conjugações sonoras elaboradas para o defunto ipod.

Conheci Warpaint graças a Paula Moura Pinheiro. Os seus "Câmara Clara" (programa de actualidade cultural, na RTP2 de há uma década) costumavam terminar com uma sugestão discográfica. Num determinado programa de 2010, a sugestão foi o bestial "Undertow". Era nada menos que o novo single da banda. Fiquei imediatamente preso ao ecrã, e, no dia seguinte, adquiri o álbum "The fool". 
Ouvir o tema "Undertow" no meu velhinho sistema Audiolab 8000S+8000SX debitando sound bytes para as também velhinhas Monitor Audio Silver 7, é ainda hoje uma experiência incrível… para ser desfrutada em dedicação exclusiva, sentado equidistantemente entre ambos os altifalantes.
… Uau…

Pois então o tema por mim involuntariamente seleccionado para ser o que mais ouvi no ano de 2020, só emerge como tal, devido á sua inclusão em 2 ou 3 dessas minhas playlists, sendo que, uma delas é por mim seleccionada com grande frequência, por constituir uma banda sonora adequada a som de fundo de variados géneros de ocupação.

Este blog já ostenta algures a frase que nele vou re-inscrever seguidamente:

A música é para mim a arte mais perfeita…

Cedo tive esta ideia formada, e bem presente, e, ouvir música é algo que espero poder fazer até ao último dos meus dias… até mesmo à última das minhas expirações.
A forma como a música modela os nosso estados de espírito é para mim um processo transcendental.
Esse processo frequentemente produz resultados muito intensos, e, não nos pede licença antes de proceder às mudanças que em nós opera.
Pode conduzir-nos rapidamente a estados extremos, e, sucessivamente opostos, ou, por outro lado manter-nos muito prolongadamente num registo constante, indutor de uniformidade.

A fiabilidade reactiva com que determinados aglomerados de sons específicos (leia-se músicas) interagem com a nossa individualidade psicológica e biológica, permite-nos construir playlists intencionalmente vocacionadas para isto ou para aquilo… Música para trabalhar, ler, treinar, desenhar, estudar, correr, conduzir, meditar, adormecer, acordar, etc (a lista é grande e será sempre passível de sofrer novos acrescentos).

Na minha perspectiva, nenhuma das restantes artes é tão eficaz, ou seja, tão poderosa e rapidamente capaz, de, com esta versatilidade, comunicar connosco, modelando tão intensamente os nossos estados de espírito.
Durante muito tempo esta foi para mim uma mera constatação, e a sua explicação nunca foi algo que eu procurasse com grande intensidade.
O que hoje acredito ser a fundamentação desta realidade acabou no entanto por dar à costa da minha consciência muito mais tarde, e, trazida serenamente por outras marés que não a da procura dedicada.

Quando acima referi acreditar que a nossa individualidade psicológica e biológica era consistentemente alterada pela sua exposição a certos encadeamentos sonoros, não o disse em sentido poético ou metafórico. 

O facto de os fenómenos vibratórios produzidos pelo som, serem  condicionadores de várias alterações nos nossos estados mentais é uma evidência já amplamente experimentada por todos nós, através da condução a outros estados mentais (alegria, tristeza, euforia, serenidade, contemplação, etc) diferentes daqueles em que nos encontrávamos anteriormente à audição de uma determinada música.

Essa influência é também bem exemplificada pelas vocalização "Om" e seu respectivo efeito na construção de estados meditativos, ou ainda, noutra área, as vocalização associadas a momentos chave de encadeamentos técnicos em várias artes marciais.

Mas as interacções entre fenómenos sonoros e materialidade física são bem menos subjectivas, e os seus resultado bem mais absolutos.

Uma demonstração extrema desta realidade interactiva entre o domínio material dos nossos organismos e  o universo sonoro consiste no grande leque de procedimentos médicos que tiram partido desta interacção, e que vão desde a realização de exames de diagnóstico, à destruição focada de tecido celular vivo (por exemplo determinado tipo de tumores), ou, por exemplo a fragmentação de aglomerados minerais (pedras) alojados nos rins. Estas duas últimas referências são, como é sabido, relativas a intervenções em profundidade, sem dano das camadas orgânicas superiores, e, com objectivos terapêuticos plenamente alcançados através de processos não invasivos.

Outras áreas das ciências da actualidade dedicam-se à exploração das potencialidades de levitação de objectos (actualmente, e por enquanto, ainda de corpos muitos leves como pequenas bolas de esferovite) através da acção coordenada de vários pequenos altifalantes activados em simultâneo.

Outra vertente da interacção entre som e matéria refere-se aos níveis vibratórios de ressonância em certos espaços arquitectónicos. O mais curioso é que essas interacções aparentam ser já conhecidas por várias culturas da antiguidade distante, e o domínio dos parâmetros  em causa na produção desses efeitos, ser já um facto no que diz respeito aos "arquitectos" dessas civilizações. 

Existem no Egipto, espaços arquitectónicos cuja construção é atribuída à cultura do Egipto Dinástico (3000-2650 a.C.), nos quais através de vocalizações de apenas um individuo é possível induzir estados de ressonância de toda a câmara arquitectónica na qual esse indivíduo se encontra. O efeito é impressionante...

O mesmo acontece, por exemplo, no Hypogeu de Malta, um gigantesco complexo arquitectónico escavado na rocha, datado de aprox. 4000 a.C. pela arqueologia convencional. Numa das várias câmaras escavadas, a que a actualidade denominou de "Sala do Oráculo", uma voz humana consegue provocar a ressonância de todo o espaço através de vocalizações com frequências de 114 hz.

Em alguns casos de estudo deste fenómeno com recurso a abordagens científicas, avaliando o efeito dessa interacção vibratória nos visitantes destes espaços, constatou-se o estímulo de certos tipos de actividade cerebral, experienciados pelos indivíduos analisados, como sendo de natureza transcendental, e como tal, propiciadora de experiências intensas de índole espiritual. 

A relevância destas descobertas reforça a afirmação da importância de uma disciplina recente, mas cada vez mais convocada, que se encontra direccionada para o estudo dos vestígios arqueológicos e arquitectónicos da antiguidade, na perspectiva da sua articulação com o som, denominada Arqueoacústica.

A interacção entre som e matéria assume ainda comportamentos muito curiosos, nos domínios da Cimática.

Um material granular tipo areia ou açúcar, se colocado sobre uma placa rígida em forma de disco, sujeita à indução de frequências vibratórias regulares e constantes, produzirá padrões gráficos de carácter geométrico, alguns concêntricos, ou, noutros casos com, por exemplo, dois eixos de simetria. Quanto mais alta for a frequência induzida, mais complexo será o padrão formado. Esses padrões denominam-se cimáticos. Cada  padrão cimático corresponde à assinatura de uma determinada frequência, e a variação do valor hertziano associado à vibração que o produz fará alterar o padrão gráfico, criando um novo desenho.
Curiosamente  encontramos motivos gráficos desta ordem, em representações Sumérias (Mesopotâmia 4000 a 2000a.C.). Existe assim margem, na perspectiva de um posicionamento interpretativo mais abrangente que o da ciência convencional, para considerar a possibilidade de estes grafismos constituírem, por algum motivo ainda desconhecido, referências gráficas a frequências hertzianas específicas.

Existem experiências com resultados fascinantes sobre a exposição de amostras de água a determinados tipos de vocalizações humanas, as quais, posteriormente, em função dos sons a que estiveram expostas apresentam diferenças formais no desenho estrutural da sua forma cristalizada. 

O contacto gradual com estas diferentes realidades veio então a constituir na minha mente, matéria prima para uma digestão interpretativa da nossa relação tão intensa com os fenómenos vibratórios provocados pelo som, e mais concretamente, das causas associadas à nossa especial relação com a Música.
Actualmente acredito que os sons que entram em contacto com toda a matéria, e mais particularmente (no âmbito deste post) com os seres humanos, são potencialmente indutores de alterações, que não apenas ao nível dos estados de espírito moimentâneos, e que a compreensão deste potencial de interacção, constitui a explicação para a nossa devoção musical.
Não é também por acaso que a dança, encarada numa perspectiva abrangente (enquanto expressão corporal motora motivada pela exposição do corpo humano ao som), constitui um fenómeno transcultural e intemporal. Mais do que uma manifestação cultural, a dança, na sua forma mais básica, afigura-se-me como uma reacção orgânica a uma determinada construção vibratória envolvente.
As sensações associadas à dança, referidas como libertadoras, e claramente rotuladas como positivas e benéficas pelas pessoas que gostam de dançar, emanam da entrega racional do seu corpo físico, a uma reacção natural e expontânea, originada pela sua exposição celular à referida construção vibratória.

Envolvido por todos estes aspectos, e profundamente convicto dos enormes benefícios para a nossa saúde psíquica e física, resultantes da audição de construções sonoras harmónicas e organizadas (música), aqui deixo, a título de recomendação terapêutica, a minha sugestão de:

 playlist para as 10 melhores músicas de Warpaint…  ; )

Billie Holiday
Love Is to Die
Drive
Undertow
Feeling Alright
Stars
New Song
The Stall
Baby
Heads Up





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