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Sunday, December 16, 2018

The Girl who Played with Fire #1






O universo da versão americana do filme The Girl with the Dragon Tatoo (série Millennium – Stieg Larsson), habitou espalhafatosamente o meu imaginário durante as semanas seguintes ao seu visionamento.
Nos tempos que se seguiram, de tão fantástica que tinha achado a fórmula do primeiro filme, desejei ardentemente a vinda de um segundo, de continuação, realizado por Fincher, e, com os mesmos actores principais, Rooney Mara e Daniel Craig.
Fiz várias incursões à internet profunda à procura de notícias, indícios ou até leves rumores que fossem, do mais pequeno sinal de que tal iria acontecer. A cada pesquisa sem sucesso era confrontado com uma realidade incompreensível e difícil de aceitar – não fazia sentido.

Sempre gostei de filmes bons em que "se faz justiça". No The Girl with the Dragon Tatoo de Fincher fiquei fascinado com vários aspectos. As personagens, os ambientes, a caracterização, a cinematografia… e a forma brilhante como aquela fantástica moça franzina, de personalidade magnética e habilidades multi-facetadas, distribui "justiça" por vários quadrantes… Uau, que carisma.
É de facto lamentável que todo aquele potencial criativo materializado naquela equipa, não tenha transbordado para mais um filme. Ainda hoje tenho dificuldade em aceitar.

Quando a Patrícia Reis e a Sara Fortes da Cunha me falaram na ideia de trabalhar sobre a personagem de Lisbeth Salander para o tema Fogo da Egoísta achei imediatamente fantástico. Maravilha.
Os três partilhamos o fascínio pela personagem principal.
Estavam focadas no episódio em que a pequena Lisbeth incendeia o pai (relação com o tema da edição), narrado no livro com o sugestivo título The Girl who Played with Fire que adoptámos para título da nossa BD. Tudo acontece após Lisbeth encontrar a mãe caída no chão, debilitada para o resto da vida, após mais um episódio de violência física extrema protagonizado pelo pai…
Ia fazer-se justiça…
Na sequência deste episódio é que Lisbeth fica em maus lençóis com a lei, e vê a sua vida assombrada pelo rastejante agente de controlo, nomeado pela segurança social, no peito do qual ela vem legitimamente a tatuar – "I'm a sadistic pig, a pervert and a rapist".
A Patrícia construiu engenhosamente a narrativa de forma a que a jovem Lisbeth, ainda criança na estória original, apareça na nossa versão no corpo de uma adolescente com outra capacidade física – Lisbeth menina, atormentada pelo dia-a-dia de terror imposto pelo pai, sonha com esta cena visualizando-se a si própria já mais velha.
Esta estrutura narrativa permite assim também, a adopção de toda a fascinante caracterização de que a Sara foi consultora. As pinturas faciais, as pulseiras, o colar, os piercings, as tatuagens etc.
Obrigado a ambas por deixarem para mim a fantástica tarefa de cozinhar livremente com todo este património de ingredientes fascinantes.

Gosto muito da frieza visual dos dias nublados da europa do norte. Muito possivelmente porque moro num país de clima temperado, que permite os primeiros mergulhos no mar por volta de Fev/Mar e os últimos em Out/Nov… Mas, que gosto, gosto…
Mesmo neste país de clima temperado, não só não dispenso, como recomendo vivamente, a experiência de um passeio às entranhas selvagens dos caminhos enlameados da serra, numa boa tarde nublada e chuvosa – com máquina fotográfica, e, roupa e calçado impermeável como notas de rodapé (se esse programa for seguido de um chá quente com queijadas regionais terá tudo para ser recordado por muito tempo) ; )
A ausência de sol nivela e harmonisa as cores, potenciando boas conjugações cromáticas. Tudo é coberto por uma suave velatura azulada.
Essa luz azul e fria apresentou-se logo nas primeiras imagens que me vieram à cabeça. Em todos os desenhos existe uma dominante cromática que me agrada muito.

*

Lisbeth avança em direcção ao carro. O que tenciona fazer não resulta de um plano elaborado… não… é mais a resposta física que é possível  ao seu corpo franzino naquele momento. A escolha das ferramentas de acção foi decidida em breves instantes, e em função do que havia à mão, mas a capacidade destrutiva que a orientou foi adoptada por indução de anos intermináveis vendo a sua mãe ser espancada…
literalmente a assistir… sem nada poder fazer.
Enquanto estreita a distância que a separa do monstro não quer que o seu olhar a denuncie nem o provoque.… olha para o chão… e esconde atrás de si a gasolina e os fósforos. É fundamental o efeito surpresa.
A cada passo que dá, algo profundo em si questiona a sua determinação… mas algo mais forte a impele a acelerar… a ganhar balanço para saltar para o capôt e com apenas mais um passo alcançar o tejadilho.

Com três leves toques de biqueira da sua bota direita, a criança pede a atenção de seu pai…
"… e depois despeja-lhe o destino por cima."

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2 comments:

Sara Fortes da Cunha said...

Eu é que agradeço permitires a minha intromissão no teu trabalho.
Mais uma vez, um trabalho teu de qualidade superior que ficará na memória. :)

Rodrigo Prazeres Saias said...

sem a tua preciosa ajuda esta BD teria ficado fraquinha.
… pouco ou nada Lisbeth – isso seria miserável
; )
Quanto ao ficar na memória… ficará pelo menos na nossa, o que é muito bom.
O B R I G A D O
Beijinho