https://www.youtube.com/watch?v=eO-eAldJmA8
A Egoísta 65 já anda por aí.
O tema desta edição é "Fronteira".
Para a capa da edição concebi uma ilustração fotográfica a partir de uma reprodução de um enquadramento d'A criação de Adão, pintada no tecto da Capela Sistina entre 1508 e 1512, por Miguel Ângelo, por encomenda do papa Júlio II. Trata-se da mão de Deus, descendo de dedo esticado sobre a mão de Adão, que lhe dirige também a sua mão, de baixo para cima. Quase se tocam.
Entre Deus e o homem, separando-os, corre uma fiada de arame farpado.
Esta ideia, vá-se lá saber porquê, assaltou-me por volta das 5 da manhã, quando, em condições normais, deveria estar ferrado a dormir...
Mas desta vez a insónia deu frutos ; )
A um punhado de matéria orgânica terrestre, o Deus (o do dedo esticado que vem de cima) adicinou um outro punhado... o de uma amostra da sua divindade.
Essa segunda componente consiste nos menos de 2% que nos diferenciam (a nós, os do dedo esticado que vai de baixo) dos macacos, e explicarão o aumento exponencial da área neuronal do nosso cérebro para aproximadamente o triplo da do nosso parente mais próximo na cadeia evolutiva.
Esta oferenda permitiu-nos, com o nosso cérebro seis a sete vezes maior do que deveria ser, tendo em conta a nossa massa corporal, em muito curto prazo, subjugar todo o planeta aos desígnios dos nossos caprichos, MAS, mais importante, permitiu também o florescimento moral que reforça a nossa distinção em relação ao resto da criação.
Essa componente permitirá, a longo prazo, aos sobreviventes do colapso da humanidade, virem um dia a tornar-se verdadeiramente membros da irmandade celestial universal – harmoniosa, iluminada e embebida em esclarecimento, compreensão e partilha do divino.
Esse futuro não terá fronteiras e estender-se-á além planetas.
Passámos a conhecer a bondade de, tendo que matar para comer, optar por fazê-lo infligindo o mínimo possível de dor. Intuímos a pertinência do agradecimento pelo sacrifício do ser vivo cujo consumo nos permitia a nós continuar a viver, a troco da sua morte.
Comovemo-nos perante a harmonia de coisas simples que, para todo o resto da criação, apenas existem, ou estão lá como cenário para a sua existência.
…
Ao longo da história pensámos muito sobre tudo isto, com a cabeça e com o coração.
Ao nível das relações humanas, essa vertente permitiu todo o rol de comportamentos e intenções que vão desde o cuidado extremo para com aqueles de que gostamos, até à instituição e estabelecimento de direitos e garantias daqueles que muitas vezes nem sequer conhecemos, e que para nós enquanto indivíduos, muito frequentemente só existem enquanto construção mental, mas cujo direito à dignidade plena reconhecemos, prezamos e defendemos. Acordámos e inscrevemos nos manifestos universais que a guerra, a violência, a traição, a inveja, a ganância, o ódio e a falta de compaixão são coisas más.
Apesar disso, as nossas acções são muitas vezes orientadas por raciocínios, sentimentos ou intenções contrários a estas verdades universais.
No longo caminho a percorrer pelo homem-macaco, da escuridão da caverna para a luz, tem havido, continua a haver, e haverá durante muito tempo, várias inflexões.
Algumas são demarcadas por fronteiras, muros e barreiras.
A cada uma delas afastamo-nos mais um pouco do dedo criador.
Todos os primatas mais próximos do homem-macaco (dos quais se destacam gorilas, chimpanzés e bonobos) possuem 24 pares de cromossomas.
Para nos fazer, o Criador lançou-se numa empreitada de fusão genética, e desse conjunto de 24 pares de cromossomas escolheu matéria prima e criou o nosso misterioso cromossoma nr 2. A estrutura dos cromossomas possui uma construção física diferenciadora naquilo que são os seus extremos (telémeros) e os seus "meios" (centrómeros). O cromossoma nr 2 do homem-macaco tem então a particularidade única de, além de ter "dois meios" (centrómeros), ambos deslocados do centro para os extremos (???), ter também, ao centro, estruturas que deveriam estar nos extremos (telémeros). Este facto indicia claramente a união de duas unidades inicialmente separadas.
Este malabarismo genético explica também o porquê de uma espécie mais desenvolvida ser, aparentemente constituída por, à primeira vista, menos material genético (menor nr. de cromossomas dos humanos vs maior nr. de cromossomas dos restantes hominídeos).
Este malabarismo genético é claramente instável. Para o provar, se não bastarem as mais de 4000 anomalias genéticas possíveis de ocorrer no homem (creio que record no panorama da criação), bastará contemplar a curta história do homem-macaco "civilizado" – demonstração máxima e bem ilustrada da referida instabilidade.
Estará aí então a receita da nossa instabilidade fervilhante?
– 98% de primata violento
– 1 mão cheia de divindade
– bater bem num qualquer liquidificador genético até aparentar homogeneidade convincente
– servir ao mundo, e fugir dali o mais rápido possível
A tal instabilidade revela-se actualmente a vários níveis e em diferentes círculos do nosso presente patamar evolutivo – o dia-a-dia em 2018.
Enuncio alguns exemplos rápidos apenas com o objectivo de contextualizar o que acabo de referir:
- Não é possível criticar a discriminação em função de género, raça, orientação sexual, etc. e não dirigir sequer um cumprimento à senhora africana que está a limpar o hall de entrada do prédio, ou ao senhor eslavo que está a recolher tabuleiros na área de restauração do centro comercial em que ingerimos uma refeição, no momento em que este aborda a nossa mesa.
- Não se pode defender o acolhimento europeu de refugiados chegados às costas do mediterrâneo e simultâneamente ignorar o pedinte romeno que nos interpela na rua, não lhe retribuindo com uma palavra, não lhe dirigindo sequer um olhar.
- Continua a ser impensável alguém gabar-se de "grab'em by the pu**y"' e chegar a ser presidente do país mais influente do mundo.
- É impensável chegar a ser presidente do país mais influente do mundo e passar o seu mandato a tentar incendiá-lo (o mandato, o país, o mundo).
- É inacreditável que o equilíbrio climático esteja à beira do colapso irreversível e ainda se discuta se isso é ou não uma questão.
…
A perplexidade com exemplos de instabilidade evolutiva retirados da actualidade, em diferentes contextos e círculos, poderia continuar a manifestar-se ao longo de uma looonga lista que não cabe neste blog, nem tem em mim a alma mais habilitada a enunciá-la, e muito menos a construí-la.
Mas então a capa da Egoísta…
O homem-macaco estacou…
À sua frente o feixe de luz no horizonte… a continuidade da evolução social e espiritual chamando alto pelo seu punhado de divindade. A bondade, a compreensão e o entendimento como objectivos diários.
Mas de trás de si também o chamam. Atrai-o o furdunço... ele gosta do frenesim em bando... do cheiro do sangue por debaixo das unhas. Virando-se ligeiramente contempla pelo canto do olho, novamente, o fundo escuro da caverna de onde provêm os urros.
Ali, parado onde está, precisa de ajuda. Não sabe o que decidir. Vindo de cima, um simples toque iluminado bastaria.
Mas entre o plano superior e o seu, há uma fronteira – a da sua confusão intermitente que não abranda, e cuja assinatura em papel mais se assemelharia à de um electrocardiograma, cheia de altos e baixos assanhados, como farpas e anzóis sem rebarba…
– são farpas de metal enrolado, mais parecendo… arame farpado.
A Egoísta 65 já anda por aí.
O tema desta edição é "Fronteira".
Para a capa da edição concebi uma ilustração fotográfica a partir de uma reprodução de um enquadramento d'A criação de Adão, pintada no tecto da Capela Sistina entre 1508 e 1512, por Miguel Ângelo, por encomenda do papa Júlio II. Trata-se da mão de Deus, descendo de dedo esticado sobre a mão de Adão, que lhe dirige também a sua mão, de baixo para cima. Quase se tocam.
Entre Deus e o homem, separando-os, corre uma fiada de arame farpado.
Esta ideia, vá-se lá saber porquê, assaltou-me por volta das 5 da manhã, quando, em condições normais, deveria estar ferrado a dormir...
Mas desta vez a insónia deu frutos ; )
Essa segunda componente consiste nos menos de 2% que nos diferenciam (a nós, os do dedo esticado que vai de baixo) dos macacos, e explicarão o aumento exponencial da área neuronal do nosso cérebro para aproximadamente o triplo da do nosso parente mais próximo na cadeia evolutiva.
Esta oferenda permitiu-nos, com o nosso cérebro seis a sete vezes maior do que deveria ser, tendo em conta a nossa massa corporal, em muito curto prazo, subjugar todo o planeta aos desígnios dos nossos caprichos, MAS, mais importante, permitiu também o florescimento moral que reforça a nossa distinção em relação ao resto da criação.
Essa componente permitirá, a longo prazo, aos sobreviventes do colapso da humanidade, virem um dia a tornar-se verdadeiramente membros da irmandade celestial universal – harmoniosa, iluminada e embebida em esclarecimento, compreensão e partilha do divino.
Esse futuro não terá fronteiras e estender-se-á além planetas.
Passámos a conhecer a bondade de, tendo que matar para comer, optar por fazê-lo infligindo o mínimo possível de dor. Intuímos a pertinência do agradecimento pelo sacrifício do ser vivo cujo consumo nos permitia a nós continuar a viver, a troco da sua morte.
Comovemo-nos perante a harmonia de coisas simples que, para todo o resto da criação, apenas existem, ou estão lá como cenário para a sua existência.
…
Ao longo da história pensámos muito sobre tudo isto, com a cabeça e com o coração.
Ao nível das relações humanas, essa vertente permitiu todo o rol de comportamentos e intenções que vão desde o cuidado extremo para com aqueles de que gostamos, até à instituição e estabelecimento de direitos e garantias daqueles que muitas vezes nem sequer conhecemos, e que para nós enquanto indivíduos, muito frequentemente só existem enquanto construção mental, mas cujo direito à dignidade plena reconhecemos, prezamos e defendemos. Acordámos e inscrevemos nos manifestos universais que a guerra, a violência, a traição, a inveja, a ganância, o ódio e a falta de compaixão são coisas más.
Apesar disso, as nossas acções são muitas vezes orientadas por raciocínios, sentimentos ou intenções contrários a estas verdades universais.
No longo caminho a percorrer pelo homem-macaco, da escuridão da caverna para a luz, tem havido, continua a haver, e haverá durante muito tempo, várias inflexões.
Algumas são demarcadas por fronteiras, muros e barreiras.
A cada uma delas afastamo-nos mais um pouco do dedo criador.
Todos os primatas mais próximos do homem-macaco (dos quais se destacam gorilas, chimpanzés e bonobos) possuem 24 pares de cromossomas.
Para nos fazer, o Criador lançou-se numa empreitada de fusão genética, e desse conjunto de 24 pares de cromossomas escolheu matéria prima e criou o nosso misterioso cromossoma nr 2. A estrutura dos cromossomas possui uma construção física diferenciadora naquilo que são os seus extremos (telémeros) e os seus "meios" (centrómeros). O cromossoma nr 2 do homem-macaco tem então a particularidade única de, além de ter "dois meios" (centrómeros), ambos deslocados do centro para os extremos (???), ter também, ao centro, estruturas que deveriam estar nos extremos (telémeros). Este facto indicia claramente a união de duas unidades inicialmente separadas.
Este malabarismo genético explica também o porquê de uma espécie mais desenvolvida ser, aparentemente constituída por, à primeira vista, menos material genético (menor nr. de cromossomas dos humanos vs maior nr. de cromossomas dos restantes hominídeos).
Este malabarismo genético é claramente instável. Para o provar, se não bastarem as mais de 4000 anomalias genéticas possíveis de ocorrer no homem (creio que record no panorama da criação), bastará contemplar a curta história do homem-macaco "civilizado" – demonstração máxima e bem ilustrada da referida instabilidade.
Estará aí então a receita da nossa instabilidade fervilhante?
– 98% de primata violento
– 1 mão cheia de divindade
– bater bem num qualquer liquidificador genético até aparentar homogeneidade convincente
– servir ao mundo, e fugir dali o mais rápido possível
A tal instabilidade revela-se actualmente a vários níveis e em diferentes círculos do nosso presente patamar evolutivo – o dia-a-dia em 2018.
Enuncio alguns exemplos rápidos apenas com o objectivo de contextualizar o que acabo de referir:
- Não é possível criticar a discriminação em função de género, raça, orientação sexual, etc. e não dirigir sequer um cumprimento à senhora africana que está a limpar o hall de entrada do prédio, ou ao senhor eslavo que está a recolher tabuleiros na área de restauração do centro comercial em que ingerimos uma refeição, no momento em que este aborda a nossa mesa.
- Não se pode defender o acolhimento europeu de refugiados chegados às costas do mediterrâneo e simultâneamente ignorar o pedinte romeno que nos interpela na rua, não lhe retribuindo com uma palavra, não lhe dirigindo sequer um olhar.
- Continua a ser impensável alguém gabar-se de "grab'em by the pu**y"' e chegar a ser presidente do país mais influente do mundo.
- É impensável chegar a ser presidente do país mais influente do mundo e passar o seu mandato a tentar incendiá-lo (o mandato, o país, o mundo).
- É inacreditável que o equilíbrio climático esteja à beira do colapso irreversível e ainda se discuta se isso é ou não uma questão.
…
A perplexidade com exemplos de instabilidade evolutiva retirados da actualidade, em diferentes contextos e círculos, poderia continuar a manifestar-se ao longo de uma looonga lista que não cabe neste blog, nem tem em mim a alma mais habilitada a enunciá-la, e muito menos a construí-la.
Mas então a capa da Egoísta…
O homem-macaco estacou…
À sua frente o feixe de luz no horizonte… a continuidade da evolução social e espiritual chamando alto pelo seu punhado de divindade. A bondade, a compreensão e o entendimento como objectivos diários.
Mas de trás de si também o chamam. Atrai-o o furdunço... ele gosta do frenesim em bando... do cheiro do sangue por debaixo das unhas. Virando-se ligeiramente contempla pelo canto do olho, novamente, o fundo escuro da caverna de onde provêm os urros.
Ali, parado onde está, precisa de ajuda. Não sabe o que decidir. Vindo de cima, um simples toque iluminado bastaria.
Mas entre o plano superior e o seu, há uma fronteira – a da sua confusão intermitente que não abranda, e cuja assinatura em papel mais se assemelharia à de um electrocardiograma, cheia de altos e baixos assanhados, como farpas e anzóis sem rebarba…
– são farpas de metal enrolado, mais parecendo… arame farpado.
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