A mudança de ano é forçosamente tempo de balanço.
A bordo deste planeta pintou-se a manta, em vários aspectos, ao longo destes últimos doze meses.
Alguns tópicos, previamente requerentes de atenção urgente, no que diz respeito a impedir que esta barca (arca) se afunde, continuaram a ser ignorados, ou foram até integralmente esquecidos.
Se o panorama pandémico da COVID 19 nos parece agora já mais leve, e de certo modo distante, e o nosso dia-a-dia é hoje mais suportável, afigura-se-me também como já evidente, que, a esperança de que, do mundo isolado em casa renascessem sociedades mais solidárias, e a humanidade subisse três degraus de uma só vez, era algo sem fundamento sólido.
… Não, não ficou tudo bem… Longe disso.
A tão falada oportunidade de um novo começo não foi aproveitada, e em vários aspectos estamos hoje mais próximos de um epílogo.
As barbaridades das guerras, das quais nós, homem-macaco, somos tão adeptos, e das quais o fundo auge está ainda tão presente (através do testemunho vivo de alguns poucos sobreviventes da II GM), estão de volta ao mundo civilizado. São algo recorrente no nosso percurso civilizacional, e com elas, alguns de nós resolvem desde as querelas de trânsito às grandes discordâncias político-estratégicas…
Alguém não estudou a história como devia… Alguém tem pedras no lugar de alguns órgãos vitais (coração)… e não é só na Rússia.
Os encontrões da, e à, China, sobre Taiwan e Hong Kong, e sobre o domínio nos mares do Sul, resultam em perigosas medições de forças que tão facilmente podem acabar mal.
As infindáveis vagas de imigração precária, frequentemente viagens pagas para a morte, feitas nas condições de conhecimento geral, continuam a encher campos de miséria… O que é feito de Lesbos, e porque desapareceu dos telejornais?
Mas nem tudo foi mau. O extremismo de direita levou um chuto com a queda de Bolsonaro, e o pesadelo Trumpista está agora bem mais longe da possibilidade de regresso ao cargo político mais importante do mundo, embora por motivos muito mais devidos à sua própria brutalidade mental do que propriamente à lucidez eleitoral do povo americano.
No último trimestre do ano, o precioso activismo climático mostrou-nos sinais de vitalidade, embora revestido de um radicalismo sócio-cultural que importa analisar… individual, social e politicamente, na medida em que traduz o desespero de gerações cujas legítimas aspirações a um futuro digno e sustentável se encontram seriamente ameaçadas de frustração. Para todos nós o tempo é curto. Para os mais novos de nós, os seus filhos poderão não ter barca (arca) para navegar. O objectivo de um 1,5° C já foi abandonado, e a lista de "perdas" que isso implica é já assustadora.
Os fenómenos extremos sucedem-se mundo fora… em catadupa… Mas raios, este foi ano de mundial… quem é que quer saber do resto?…
Por cá, as assinaturas digitais de alguns jornais credíveis aumentaram. Mais informação, significa directamente mais qualidade nos votos. Há margem para a esperança.
Mas este… é só um blog de ilustração.
Vou voltar à pintura dos pinóquios.
No comments:
Post a Comment