O “Trovador”, é uma das ilustrações que criei para o novo manual de português, do 10° ano, da Porto Editora. O livro chama-se “Marca a Página”, e a sua construção esteve a cargo da experiente editora Ana Guedes, tendo como autores as professoras Bárbara Tavares, Daniela Pinheiro, Isolete Sousa e o professor Ricardo Cruz.
5 intervenientes com uma generosidade de referência obrigatória, aos quais dirijo, agora neste modestíssimo forúm, mais um sincero agradecimento.
Este desafio foi para mim, como habitualmente, propiciador de momentos de enorme prazer ilustrativo.
Como já referi em posts anteriores, a minha natureza criativa sente-se especialmente desafiada pelas áreas irregulares deixadas em branco no layout das páginas, durante a fase de paginação, destinando-se essas zonas ao preenchimento por ilustrações.
A minha mente entretém-se a adaptar e a sobrepor a essas áreas, bonecos, apresentando posturas exóticas e composições estranhas, na procura activa de conciliar, de forma o mais articulada possível, a realidade narrativa da ilustração com o contexto gráfico da página.
A minha vertente de designer, largamente familiarizado com os desafios da formatação de páginas e layouts com eficácia comunicativa, é, reconheço, uma enorme ajuda para esta tarefa…
Mas, como se verá mais à frente, não é dessa ajuda que quero falar à reduzida, paciente, compreensiva e persistente, pequena audiência deste blog.
Este “Trovador” deixou-me muito contente.
É das ilustrações de que mais gosto, no conjunto que produzi para o “Marca a página”. Na verdade, deixou-me tão satisfeito, que acabou por dar origem a uma pequena animação, que aprofunda um pouco mais o contexto que a minha mente foi construindo ao idealizar este boneco.
Quem faz o favor de acompanhar a minha produção ilustrativa sabe que, ocasionalmente (sempre que possível e adequado), opto pela incorporação de referências naturais, eventualmente relevantes no panorama das minhas vivências… Este, é um desses casos… ainda para mais, potenciado pela vertente multimédia possibilitada pelo formato vídeo.
O Trovador está sentado num afloramento rochoso, que foi aproveitado para suportar parte de um muro de uma casa isolada no campo.
Encontra-se confortavelmente à sombra de uma pequena árvore que, faz muito tempo, despontou e cresceu logo ali ao lado.
A tarde esteve quente, e à medida que o dia se vai aproximando do fim, a temperatura tornou-se amena… muito agradável.
O homem está entregue às deambulações dos seus pensamentos, e,
de olhar posto no infinito, vai dedilhando as cordas do seu Alaúde.
Essas cordas fazem parte do seu corpo,
e o som que libertam é um murmúrio da sua alma.
Esta sintonia entre o personagem principal e as coisas da natureza, é observada em primeira fila, por um espectador discreto, posicionado à direita do ecrã, pousado em cima de uma outra pedra.
Trata-se de um melro macho adulto.
Foi então para a criação desta envolvência natural, na qual se inclui o referido personagem secundário, que contei com algumas ajudas, que aqui passo a referir…
– Para representação desta ave, contei com o imprescindível desempenho de modelo, de um dos vários melros que vêem diariamente (na verdade várias vezes ao dia) alimentar-se e descansar na nossa varanda. O referido pássaro fez o favor de pousar para mim, paciente, enquanto eu rapidamente lhe captava os traços caracterizadores.
– Contei ainda com a preciosa ajuda da Maria João que, (além da habitual e preciosa assessoria em pareceres ilustrativos), há vários anos iniciou este ritual de alimentação da vida selvagem local, o qual desde então traz à nossa varanda, geração após geração, algumas famílias de melros (entre outros animais), com as quais já desenvolvemos níveis bastante simpáticos de interacção inter-espécies.
– Para o contexto sonoro desta ilustração animada foi também fundamental a ajuda natural de congéneres de melro, e afins, que habitam as áreas verdes das traseiras da nossa casa, e que fizeram o favor de entoar o chilrear harmonioso audível nesta banda sonora.
Sou assim um ilustrador com muita sorte… e com este tipo de ajudas tenho o trabalho muito, muito facilitado.
Manifesto-me grato ; )