O ilustrador responsável por este blog integra a partir de hoje o grupo de utilizadores de engenhocas de barbear tradicional, com recurso a perigosas e ameaçadoras lâminas autónomas e descartáveis.
Questionar-se-á eventualmente quem lê, sobre o porquê desta revelação pública (ou com aspirações a tal), relativa a tópicos comummente relegados para aquilo que deve permanecer trancado nas catacumbas sombrias da reduzida esfera de intimidade do comum ser humano…
Ficará esta questão no ar, enquanto explano primeiramente o móbil desta mudança radical em tão relevante hábito da minha rotina diária.
Eis pois que me trazia assaz melindrado, há já bastante tempo, o resultado da consideração racional sobre a enorme quantidade de dispositivos de barbear, materializados no tão famigerado plástico, por cuja introdução nas cadeias de reciclagem e desperdício eu era o mais directo responsável.
Não sendo adepto da moda das barbas de inspiração bíblico-proféticas (em ar de tecitura de nidificação para acolhimento de seres vivos), tão em voga na actualidade, optei então por esta mudança operativa indutora de um claro alívio da minha pegada ecológica.
Pode muito bem ser que, a exposição do motivo por detrás desta iniciativa, tenha começado a desenhar na mente de quem se mantém ainda activo na leitura deste breve texto, um esboço sumido, daquela que terá sido a minha motivação para a partilha desta informação… Na verdade, aspiro assim, com este post, a semear na mente de outros eventuais utilizadores de dispositivos de barbear materializados em plástico, a dúvida sobre a sustentabilidade da técnica adoptada em função das ferramentas escolhidas.
Mas sinto ainda que a pertinência desta entrada no meu blog não se encontra totalmente justificada. Afinal, este é um blog subordinado à temática da ilustração e actividades a si conexas.
Vou então, a título de ponte temática, mencionar algo de que me apercebi ao executar o desenho acima publicado, tendo porém, clara noção de que tal associação conceptual apenas me ocorreu pelo facto de, ao começar a desenhar, não ter ainda decorrido uma modesta hora, desde a compra do meus novos brinquedos de barbear.
Então aqui vai…
… sobre as semelhanças e afinidades encontradas entre, no acto de desenhar, o manuseamento da caneta, e no acto de barbear (segundo as preciosas e detalhadas indicações do estimado comerciante, e também na minha modesta experiência), o manuseamento do dispositivo de corte.
Como assim?
… ocorreu-me então, ao aplicar a subtil sombra riscada que se encontra por baixo da máquina de barbear presente neste desenho, a existência de um paralelismo convicto entre ambas as experiências e seus resultados. Na verdade, em ambas, inclinação a menos na ferramenta, bem como inclinação excessiva da mesma, poderão em seu tempo produzir resultados de inferior qualidade ou eventualmente desastrosos na obra. Da mesma forma, em ambos os processos, o controlo da pressão aplicada manualmente ao instrumento operativo é de vital importância na produção de efeitos na zona de contacto entre superfícies… respectivamente do bico da caneta no papel, e, da lâmina afiada na superfície (ou algo mais profundamente) da pele.
Resta saber se dos inúmeros cortes que irão certamente aparecer no rosto deste ilustrador, jorrará sangue vermelho, ou… tinta preta.
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