"… e depois despeja-lhe o destino por cima."
Lisbeth Salander e o seu progenitor não se cosiam…
Percebe-se, certo?
O senhor não era propriamente a pessoa mais amistosa do mundo. A relação paternal não tinha no carinho o seu sentimento predominante, a sua característica mais evidente.
Além disso, a forma como o pai tratava a mãe (essa sim, uma pessoa muito querida por Lisbeth), também não ajudava ao estreitamento da relação entre filha e pai. As agressões constantes, físicas e verbais, a sabotagem emocional... a simples postura de dominação permanente, total, incontornável…
O animal tinha a família bem presa por trelas curtas, com picos e estranguladores.
De tempos a tempos, um bom puxão para pôr tudo em sentido, hmmmm…
Até hoje.
... hoje a sua atitude mudou...
... hoje a sua atitude mudou...
O natal é para mim uma altura de afrontamento profundo perante a quantidade de amigos e conhecidos que me relatam desavenças sérias, incompatibilizantes, e frequentemente insolúveis, com determinados familiares.
… e digo, de afrontamento profundo, porque valorizo imensamente a fórmula do natal passado em união familiar, em construção activa de um ambiente de harmonia, e afectuosa partilha intergeracional. Para tal contribui certamente o facto de ter eu sido abençoado com a experiência disso mesmo – na pele, e em todas as camadas existentes da pele até ao coração – desde os serões de preparos culinários que antecediam a noite de 24, até ao desmontar do tripé de apoio que sustentava a árvore de natal, antes de esta ser enfiada, toda dobradinha e enrolada em cartão e cordeis, até ao natal seguinte, no armário do corredor, por cima do roupeiro grande.
Pois então amigos e conhecidos relatam-me que os seus natais se encontram mutilados por estas desavenças com os tais "determinados" familiares, AOS QUAIS, estão "unidos" genéticamente com maior ou menor proximidade, mas DOS QUAIS, se encontram afectiva e socialmente afastados, com diferentes graus de distanciamento.
Um somatório de tristes descarrilamentos nas linhas da vida de um mar de gente,
… frequentemente para sempre.
Mas estas considerações sobre os paralelismos e as interceções, as tangentes e as secantes dos traços da genética, querem mesmo é conduzir este texto, de forma subtil e dissimulada, às temáticas fracturantes da actualidade.
Deus, Pátria e Família
Então... por ordem inversa, pela lógica do encadeamento com o que já foi escrito sobre diferentes dinâmicas familiares.
A "família" soante nos discursos destes novos ventos políticos do mundo conservador não promete futuro.
Promete sim retrocesso… retroceder de rastos.
"Família" não é coisa que se imponha à força do discurso político. "Família" cultiva-se com muito cuidado, carinho e dedicação, e só está, e estará acessível, a muito poucos bons jardineiros.
Quando calhar nascer estragada não será por decreto de campanha que vai vingar e tornar-se unida saudável e luminosa. Não se impõe a nações através de discursos absolutistas.
"Família" no entrelinhamento destes manifestos soa a família que se mantém junta nem que seja à pancada… e essa… queremo-la nós saudávelmente separada.
Mas este discurso tem mesmo grandes planos é para as suas amadas pátrias.
Curiosamente, todas as pátrias que subscreverem estas políticas deverão rápidamente (segundo as aspirações dos seus oradores) ascender ao lugar primeiro na Nova Ordem Mundial…
mmmmm… mas será ex aequo???
… mas para isso será necessário passar um pouco ao lado da noção de que, na realidade, a solução dos grandes problemas da humanidade passa mesmo é por mais concertação, articulação, partilha e nivelamento inter/nacional, como forma de sanar assimetrias brutais de diferente índole, inerentes a factores naturais, ou criados pelo homem, que condicionam negativamente o desenvolvimento de uns, e favorecem injusta e positivamente o desenvolvimento de outros… (a título de nota é de recordar que a vida no planeta está à beira do colapso, em contagem decrescente acelerada, dependendo a sua sobrevivência da resolução urgente e concertada, de alguns desses problemas inter/nacionais).
Mas o primeiro alicerce obrigatório deste discurso é Deus
O que não deixa de ser curioso porque normalmente este discurso também assenta em políticas sociais e económicas que estão longe de ser as mais integrativas, niveladoras e equitativamente distributivas. Se a relação entre estes dois pilares (Deus e política) não for evidente, recomendo humildemente a leitura do best seller internacional (e porque o ocidente conservador está historicamente conotado com as religiões Cristãs), chamado Novo Testamento – querendo uma versão reduzida, poder-se-á, sem grande penalização para a assimilação da essência da mensagem, optar apenas por qualquer um dos relatos de um dos 4 apóstolos – mais uma vez humildemente, recomendo… João.
A associação destes três conceitos (Deus, Pátria e Família) à fundamentação de algumas opções políticas da actualidade, não nos vai conduzir à realidade que precisamos desesperada e urgentemente de alcançar no futuro (próximo), e é mais adequada ao discurso de um museu de antropologia do que a um parlamento nacional do mundo civilizado.
Há que acordar... rápido.
Enquanto tijolos nas paredes da democracia temos o direito e a obrigação de andar informados. Brevemente seremos chamados a participar de grandes decisões, e, se não estivermos bem informados, seremos vulneráveis peões nas mãos de manipuladores hábeis e dissimulados... Isso já aconteceu... muito perto de nós e há bem pouco tempo.
Por aproximadamente 6 EUR por mês, é possível assinar digitalmente um jornal generalista diário, e assim cimentar, ou construir opiniões, e simultâneamente ajudar a sustentar activamente uma fonte de jornalismo credível e independente, base de uma democracia sólida e saudável.
Há que fazê-lo, por favor, agora…
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