Monday, December 31, 2018
Friday, December 28, 2018
Dezembro 2018 _ durante a "Grande Aceleração" do "Antropoceno"
Mas aqui, de onde estamos no calendário, celebramos a passagem de mais uma ano.
Um ano, no curto espaço de tempo disponível para a mudança urgente, é muito tempo.
A somar à evidente enorme incapacidade/indisponibilidade para vermos as coisas pelos olhos dos OUTROS, com reflexo no avanço dos ideais extremistas e da intolerância no mundo ocidental, soma-se agora outra evidência comportamental… a incapacidade de vermos as coisas pelos NOSSOS próprios olhos.
O objectivo climático global dos 1.5° Celsius, ou até o horizonte de 2° Celsius (que fará vários parâmetros problemáticos quase duplicarem de gravidade em relação ao objectivo de 1.5°C) começa a parecer uma miragem inalcançável… e as miragens são fenómenos típicos das travessias de desertos tórridos.
Se constatarmos mesmo que o que queríamos ser a realidade, não passa afinal de uma miragem inatingível, será um muito mau sinal, e dirá algo trágico sobre o panorama em que nos encontramos nessa altura.
Mas por agora… está aí o Réveillon, as galas finais de importantes programas televisivos com forte impacto na sociedade, os saldos em grandes e pequenas marcas, e várias excelentes oportunidades de aquisição de bens. Importará também saber quem passou o ano onde, e com quem… e o que tinha vestido… e quais as antevisões para o próximo ano em várias áreas importantes – Quais os carros novos que as marcas vão libertar neste próximo ano, os aguardados upgrades à playstattion, e ainda os novos modelos de telefones da Samsung – 2019 promete ser revolucionário.
Sunday, December 16, 2018
The Girl who Played with Fire #1
O universo da versão americana do filme The Girl with the Dragon Tatoo (série Millennium – Stieg Larsson), habitou espalhafatosamente o meu imaginário durante as semanas seguintes ao seu visionamento.
Nos tempos que se seguiram, de tão fantástica que tinha achado a fórmula do primeiro filme, desejei ardentemente a vinda de um segundo, de continuação, realizado por Fincher, e, com os mesmos actores principais, Rooney Mara e Daniel Craig.
Fiz várias incursões à internet profunda à procura de notícias, indícios ou até leves rumores que fossem, do mais pequeno sinal de que tal iria acontecer. A cada pesquisa sem sucesso era confrontado com uma realidade incompreensível e difícil de aceitar – não fazia sentido.
Sempre gostei de filmes bons em que "se faz justiça". No The Girl with the Dragon Tatoo de Fincher fiquei fascinado com vários aspectos. As personagens, os ambientes, a caracterização, a cinematografia… e a forma brilhante como aquela fantástica moça franzina, de personalidade magnética e habilidades multi-facetadas, distribui "justiça" por vários quadrantes… Uau, que carisma.
É de facto lamentável que todo aquele potencial criativo materializado naquela equipa, não tenha transbordado para mais um filme. Ainda hoje tenho dificuldade em aceitar.
Quando a Patrícia Reis e a Sara Fortes da Cunha me falaram na ideia de trabalhar sobre a personagem de Lisbeth Salander para o tema Fogo da Egoísta achei imediatamente fantástico. Maravilha.
Os três partilhamos o fascínio pela personagem principal.
Estavam focadas no episódio em que a pequena Lisbeth incendeia o pai (relação com o tema da edição), narrado no livro com o sugestivo título The Girl who Played with Fire que adoptámos para título da nossa BD. Tudo acontece após Lisbeth encontrar a mãe caída no chão, debilitada para o resto da vida, após mais um episódio de violência física extrema protagonizado pelo pai…
Ia fazer-se justiça…
Na sequência deste episódio é que Lisbeth fica em maus lençóis com a lei, e vê a sua vida assombrada pelo rastejante agente de controlo, nomeado pela segurança social, no peito do qual ela vem legitimamente a tatuar – "I'm a sadistic pig, a pervert and a rapist".
A Patrícia construiu engenhosamente a narrativa de forma a que a jovem Lisbeth, ainda criança na estória original, apareça na nossa versão no corpo de uma adolescente com outra capacidade física – Lisbeth menina, atormentada pelo dia-a-dia de terror imposto pelo pai, sonha com esta cena visualizando-se a si própria já mais velha.
Esta estrutura narrativa permite assim também, a adopção de toda a fascinante caracterização de que a Sara foi consultora. As pinturas faciais, as pulseiras, o colar, os piercings, as tatuagens etc.
Obrigado a ambas por deixarem para mim a fantástica tarefa de cozinhar livremente com todo este património de ingredientes fascinantes.
Gosto muito da frieza visual dos dias nublados da europa do norte. Muito possivelmente porque moro num país de clima temperado, que permite os primeiros mergulhos no mar por volta de Fev/Mar e os últimos em Out/Nov… Mas, que gosto, gosto…
Mesmo neste país de clima temperado, não só não dispenso, como recomendo vivamente, a experiência de um passeio às entranhas selvagens dos caminhos enlameados da serra, numa boa tarde nublada e chuvosa – com máquina fotográfica, e, roupa e calçado impermeável como notas de rodapé (se esse programa for seguido de um chá quente com queijadas regionais terá tudo para ser recordado por muito tempo) ; )
A ausência de sol nivela e harmonisa as cores, potenciando boas conjugações cromáticas. Tudo é coberto por uma suave velatura azulada.
Essa luz azul e fria apresentou-se logo nas primeiras imagens que me vieram à cabeça. Em todos os desenhos existe uma dominante cromática que me agrada muito.
*
Lisbeth avança em direcção ao carro. O que tenciona fazer não resulta de um plano elaborado… não… é mais a resposta física que é possível ao seu corpo franzino naquele momento. A escolha das ferramentas de acção foi decidida em breves instantes, e em função do que havia à mão, mas a capacidade destrutiva que a orientou foi adoptada por indução de anos intermináveis vendo a sua mãe ser espancada…
literalmente a assistir… sem nada poder fazer.
Enquanto estreita a distância que a separa do monstro não quer que o seu olhar a denuncie nem o provoque.… olha para o chão… e esconde atrás de si a gasolina e os fósforos. É fundamental o efeito surpresa.
A cada passo que dá, algo profundo em si questiona a sua determinação… mas algo mais forte a impele a acelerar… a ganhar balanço para saltar para o capôt e com apenas mais um passo alcançar o tejadilho.
Com três leves toques de biqueira da sua bota direita, a criança pede a atenção de seu pai…
"… e depois despeja-lhe o destino por cima."
CLICK NAS IMAGENS PARA AMPLIAR
Saturday, September 29, 2018
Egoísta 65 _ Fronteira
https://www.youtube.com/watch?v=eO-eAldJmA8
A Egoísta 65 já anda por aí.
O tema desta edição é "Fronteira".
Para a capa da edição concebi uma ilustração fotográfica a partir de uma reprodução de um enquadramento d'A criação de Adão, pintada no tecto da Capela Sistina entre 1508 e 1512, por Miguel Ângelo, por encomenda do papa Júlio II. Trata-se da mão de Deus, descendo de dedo esticado sobre a mão de Adão, que lhe dirige também a sua mão, de baixo para cima. Quase se tocam.
Entre Deus e o homem, separando-os, corre uma fiada de arame farpado.
Esta ideia, vá-se lá saber porquê, assaltou-me por volta das 5 da manhã, quando, em condições normais, deveria estar ferrado a dormir...
Mas desta vez a insónia deu frutos ; )
A um punhado de matéria orgânica terrestre, o Deus (o do dedo esticado que vem de cima) adicinou um outro punhado... o de uma amostra da sua divindade.
Essa segunda componente consiste nos menos de 2% que nos diferenciam (a nós, os do dedo esticado que vai de baixo) dos macacos, e explicarão o aumento exponencial da área neuronal do nosso cérebro para aproximadamente o triplo da do nosso parente mais próximo na cadeia evolutiva.
Esta oferenda permitiu-nos, com o nosso cérebro seis a sete vezes maior do que deveria ser, tendo em conta a nossa massa corporal, em muito curto prazo, subjugar todo o planeta aos desígnios dos nossos caprichos, MAS, mais importante, permitiu também o florescimento moral que reforça a nossa distinção em relação ao resto da criação.
Essa componente permitirá, a longo prazo, aos sobreviventes do colapso da humanidade, virem um dia a tornar-se verdadeiramente membros da irmandade celestial universal – harmoniosa, iluminada e embebida em esclarecimento, compreensão e partilha do divino.
Esse futuro não terá fronteiras e estender-se-á além planetas.
Passámos a conhecer a bondade de, tendo que matar para comer, optar por fazê-lo infligindo o mínimo possível de dor. Intuímos a pertinência do agradecimento pelo sacrifício do ser vivo cujo consumo nos permitia a nós continuar a viver, a troco da sua morte.
Comovemo-nos perante a harmonia de coisas simples que, para todo o resto da criação, apenas existem, ou estão lá como cenário para a sua existência.
…
Ao longo da história pensámos muito sobre tudo isto, com a cabeça e com o coração.
Ao nível das relações humanas, essa vertente permitiu todo o rol de comportamentos e intenções que vão desde o cuidado extremo para com aqueles de que gostamos, até à instituição e estabelecimento de direitos e garantias daqueles que muitas vezes nem sequer conhecemos, e que para nós enquanto indivíduos, muito frequentemente só existem enquanto construção mental, mas cujo direito à dignidade plena reconhecemos, prezamos e defendemos. Acordámos e inscrevemos nos manifestos universais que a guerra, a violência, a traição, a inveja, a ganância, o ódio e a falta de compaixão são coisas más.
Apesar disso, as nossas acções são muitas vezes orientadas por raciocínios, sentimentos ou intenções contrários a estas verdades universais.
No longo caminho a percorrer pelo homem-macaco, da escuridão da caverna para a luz, tem havido, continua a haver, e haverá durante muito tempo, várias inflexões.
Algumas são demarcadas por fronteiras, muros e barreiras.
A cada uma delas afastamo-nos mais um pouco do dedo criador.
Todos os primatas mais próximos do homem-macaco (dos quais se destacam gorilas, chimpanzés e bonobos) possuem 24 pares de cromossomas.
Para nos fazer, o Criador lançou-se numa empreitada de fusão genética, e desse conjunto de 24 pares de cromossomas escolheu matéria prima e criou o nosso misterioso cromossoma nr 2. A estrutura dos cromossomas possui uma construção física diferenciadora naquilo que são os seus extremos (telémeros) e os seus "meios" (centrómeros). O cromossoma nr 2 do homem-macaco tem então a particularidade única de, além de ter "dois meios" (centrómeros), ambos deslocados do centro para os extremos (???), ter também, ao centro, estruturas que deveriam estar nos extremos (telémeros). Este facto indicia claramente a união de duas unidades inicialmente separadas.
Este malabarismo genético explica também o porquê de uma espécie mais desenvolvida ser, aparentemente constituída por, à primeira vista, menos material genético (menor nr. de cromossomas dos humanos vs maior nr. de cromossomas dos restantes hominídeos).
Este malabarismo genético é claramente instável. Para o provar, se não bastarem as mais de 4000 anomalias genéticas possíveis de ocorrer no homem (creio que record no panorama da criação), bastará contemplar a curta história do homem-macaco "civilizado" – demonstração máxima e bem ilustrada da referida instabilidade.
Estará aí então a receita da nossa instabilidade fervilhante?
– 98% de primata violento
– 1 mão cheia de divindade
– bater bem num qualquer liquidificador genético até aparentar homogeneidade convincente
– servir ao mundo, e fugir dali o mais rápido possível
A tal instabilidade revela-se actualmente a vários níveis e em diferentes círculos do nosso presente patamar evolutivo – o dia-a-dia em 2018.
Enuncio alguns exemplos rápidos apenas com o objectivo de contextualizar o que acabo de referir:
- Não é possível criticar a discriminação em função de género, raça, orientação sexual, etc. e não dirigir sequer um cumprimento à senhora africana que está a limpar o hall de entrada do prédio, ou ao senhor eslavo que está a recolher tabuleiros na área de restauração do centro comercial em que ingerimos uma refeição, no momento em que este aborda a nossa mesa.
- Não se pode defender o acolhimento europeu de refugiados chegados às costas do mediterrâneo e simultâneamente ignorar o pedinte romeno que nos interpela na rua, não lhe retribuindo com uma palavra, não lhe dirigindo sequer um olhar.
- Continua a ser impensável alguém gabar-se de "grab'em by the pu**y"' e chegar a ser presidente do país mais influente do mundo.
- É impensável chegar a ser presidente do país mais influente do mundo e passar o seu mandato a tentar incendiá-lo (o mandato, o país, o mundo).
- É inacreditável que o equilíbrio climático esteja à beira do colapso irreversível e ainda se discuta se isso é ou não uma questão.
…
A perplexidade com exemplos de instabilidade evolutiva retirados da actualidade, em diferentes contextos e círculos, poderia continuar a manifestar-se ao longo de uma looonga lista que não cabe neste blog, nem tem em mim a alma mais habilitada a enunciá-la, e muito menos a construí-la.
Mas então a capa da Egoísta…
O homem-macaco estacou…
À sua frente o feixe de luz no horizonte… a continuidade da evolução social e espiritual chamando alto pelo seu punhado de divindade. A bondade, a compreensão e o entendimento como objectivos diários.
Mas de trás de si também o chamam. Atrai-o o furdunço... ele gosta do frenesim em bando... do cheiro do sangue por debaixo das unhas. Virando-se ligeiramente contempla pelo canto do olho, novamente, o fundo escuro da caverna de onde provêm os urros.
Ali, parado onde está, precisa de ajuda. Não sabe o que decidir. Vindo de cima, um simples toque iluminado bastaria.
Mas entre o plano superior e o seu, há uma fronteira – a da sua confusão intermitente que não abranda, e cuja assinatura em papel mais se assemelharia à de um electrocardiograma, cheia de altos e baixos assanhados, como farpas e anzóis sem rebarba…
– são farpas de metal enrolado, mais parecendo… arame farpado.
A Egoísta 65 já anda por aí.
O tema desta edição é "Fronteira".
Para a capa da edição concebi uma ilustração fotográfica a partir de uma reprodução de um enquadramento d'A criação de Adão, pintada no tecto da Capela Sistina entre 1508 e 1512, por Miguel Ângelo, por encomenda do papa Júlio II. Trata-se da mão de Deus, descendo de dedo esticado sobre a mão de Adão, que lhe dirige também a sua mão, de baixo para cima. Quase se tocam.
Entre Deus e o homem, separando-os, corre uma fiada de arame farpado.
Esta ideia, vá-se lá saber porquê, assaltou-me por volta das 5 da manhã, quando, em condições normais, deveria estar ferrado a dormir...
Mas desta vez a insónia deu frutos ; )
Essa segunda componente consiste nos menos de 2% que nos diferenciam (a nós, os do dedo esticado que vai de baixo) dos macacos, e explicarão o aumento exponencial da área neuronal do nosso cérebro para aproximadamente o triplo da do nosso parente mais próximo na cadeia evolutiva.
Esta oferenda permitiu-nos, com o nosso cérebro seis a sete vezes maior do que deveria ser, tendo em conta a nossa massa corporal, em muito curto prazo, subjugar todo o planeta aos desígnios dos nossos caprichos, MAS, mais importante, permitiu também o florescimento moral que reforça a nossa distinção em relação ao resto da criação.
Essa componente permitirá, a longo prazo, aos sobreviventes do colapso da humanidade, virem um dia a tornar-se verdadeiramente membros da irmandade celestial universal – harmoniosa, iluminada e embebida em esclarecimento, compreensão e partilha do divino.
Esse futuro não terá fronteiras e estender-se-á além planetas.
Passámos a conhecer a bondade de, tendo que matar para comer, optar por fazê-lo infligindo o mínimo possível de dor. Intuímos a pertinência do agradecimento pelo sacrifício do ser vivo cujo consumo nos permitia a nós continuar a viver, a troco da sua morte.
Comovemo-nos perante a harmonia de coisas simples que, para todo o resto da criação, apenas existem, ou estão lá como cenário para a sua existência.
…
Ao longo da história pensámos muito sobre tudo isto, com a cabeça e com o coração.
Ao nível das relações humanas, essa vertente permitiu todo o rol de comportamentos e intenções que vão desde o cuidado extremo para com aqueles de que gostamos, até à instituição e estabelecimento de direitos e garantias daqueles que muitas vezes nem sequer conhecemos, e que para nós enquanto indivíduos, muito frequentemente só existem enquanto construção mental, mas cujo direito à dignidade plena reconhecemos, prezamos e defendemos. Acordámos e inscrevemos nos manifestos universais que a guerra, a violência, a traição, a inveja, a ganância, o ódio e a falta de compaixão são coisas más.
Apesar disso, as nossas acções são muitas vezes orientadas por raciocínios, sentimentos ou intenções contrários a estas verdades universais.
No longo caminho a percorrer pelo homem-macaco, da escuridão da caverna para a luz, tem havido, continua a haver, e haverá durante muito tempo, várias inflexões.
Algumas são demarcadas por fronteiras, muros e barreiras.
A cada uma delas afastamo-nos mais um pouco do dedo criador.
Todos os primatas mais próximos do homem-macaco (dos quais se destacam gorilas, chimpanzés e bonobos) possuem 24 pares de cromossomas.
Para nos fazer, o Criador lançou-se numa empreitada de fusão genética, e desse conjunto de 24 pares de cromossomas escolheu matéria prima e criou o nosso misterioso cromossoma nr 2. A estrutura dos cromossomas possui uma construção física diferenciadora naquilo que são os seus extremos (telémeros) e os seus "meios" (centrómeros). O cromossoma nr 2 do homem-macaco tem então a particularidade única de, além de ter "dois meios" (centrómeros), ambos deslocados do centro para os extremos (???), ter também, ao centro, estruturas que deveriam estar nos extremos (telémeros). Este facto indicia claramente a união de duas unidades inicialmente separadas.
Este malabarismo genético explica também o porquê de uma espécie mais desenvolvida ser, aparentemente constituída por, à primeira vista, menos material genético (menor nr. de cromossomas dos humanos vs maior nr. de cromossomas dos restantes hominídeos).
Este malabarismo genético é claramente instável. Para o provar, se não bastarem as mais de 4000 anomalias genéticas possíveis de ocorrer no homem (creio que record no panorama da criação), bastará contemplar a curta história do homem-macaco "civilizado" – demonstração máxima e bem ilustrada da referida instabilidade.
Estará aí então a receita da nossa instabilidade fervilhante?
– 98% de primata violento
– 1 mão cheia de divindade
– bater bem num qualquer liquidificador genético até aparentar homogeneidade convincente
– servir ao mundo, e fugir dali o mais rápido possível
A tal instabilidade revela-se actualmente a vários níveis e em diferentes círculos do nosso presente patamar evolutivo – o dia-a-dia em 2018.
Enuncio alguns exemplos rápidos apenas com o objectivo de contextualizar o que acabo de referir:
- Não é possível criticar a discriminação em função de género, raça, orientação sexual, etc. e não dirigir sequer um cumprimento à senhora africana que está a limpar o hall de entrada do prédio, ou ao senhor eslavo que está a recolher tabuleiros na área de restauração do centro comercial em que ingerimos uma refeição, no momento em que este aborda a nossa mesa.
- Não se pode defender o acolhimento europeu de refugiados chegados às costas do mediterrâneo e simultâneamente ignorar o pedinte romeno que nos interpela na rua, não lhe retribuindo com uma palavra, não lhe dirigindo sequer um olhar.
- Continua a ser impensável alguém gabar-se de "grab'em by the pu**y"' e chegar a ser presidente do país mais influente do mundo.
- É impensável chegar a ser presidente do país mais influente do mundo e passar o seu mandato a tentar incendiá-lo (o mandato, o país, o mundo).
- É inacreditável que o equilíbrio climático esteja à beira do colapso irreversível e ainda se discuta se isso é ou não uma questão.
…
A perplexidade com exemplos de instabilidade evolutiva retirados da actualidade, em diferentes contextos e círculos, poderia continuar a manifestar-se ao longo de uma looonga lista que não cabe neste blog, nem tem em mim a alma mais habilitada a enunciá-la, e muito menos a construí-la.
Mas então a capa da Egoísta…
O homem-macaco estacou…
À sua frente o feixe de luz no horizonte… a continuidade da evolução social e espiritual chamando alto pelo seu punhado de divindade. A bondade, a compreensão e o entendimento como objectivos diários.
Mas de trás de si também o chamam. Atrai-o o furdunço... ele gosta do frenesim em bando... do cheiro do sangue por debaixo das unhas. Virando-se ligeiramente contempla pelo canto do olho, novamente, o fundo escuro da caverna de onde provêm os urros.
Ali, parado onde está, precisa de ajuda. Não sabe o que decidir. Vindo de cima, um simples toque iluminado bastaria.
Mas entre o plano superior e o seu, há uma fronteira – a da sua confusão intermitente que não abranda, e cuja assinatura em papel mais se assemelharia à de um electrocardiograma, cheia de altos e baixos assanhados, como farpas e anzóis sem rebarba…
– são farpas de metal enrolado, mais parecendo… arame farpado.
Sunday, September 23, 2018
Saturday, September 8, 2018
Wednesday, August 22, 2018
Saturday, August 4, 2018
Democracia – jornalismo
A relação é simples e óbvia…
Mas,
…frequentemente passamos ao lado desta evidência.
A imagem que aqui reproduzo ilustra uma ideia que, creio, importa absorver e digerir com URGÊNCIA. Essa digestão deve levar-nos imediatamente a agir no sentido de sustentarmos a base da democracia – o acesso por parte dos eleitores a informação séria, rigorosa e independente.
Existe numa faixa alargada de eleitores a ilusão de que o acompanhamento dos títulos e pequenas "notícias" que chegam até nós, por via do contacto diário e frequente com as diversas plataformas constituintes das redes sociais, e sites de informação sumária/destaques, constitui fonte suficiente de "informação" para construir e fundamentar as nossas opiniões.
É também frequente a simples dedução de conteúdos de notícias a partir da mera leitura de um título com o qual se toma contacto através de um qualquer veículo comunicativo… Nada mais enganador.
É sabido que as vendas de jornais e revistas enfrentam uma realidade de declínio.
Por outro lado, é fácil de deduzir que os mecanismos de visualização em diferido dos conteúdos audiovisuais informativos, permitindo ao espectador evitar os pesados blocos de publicidade que lhes estão anexados, não tardarão a alterar os padrões de aposta das marcas naquilo que é a compra de tempo de antena nos canais televisivos – dependendo das novas modalidades que vierem a ser encontradas, essa alteração poderá, a médio prazo, constituir um pesado golpe desferido contra a sustentabilidade das redacções informativas existentes nos canais de televisão.
Vivemos actualmente um período desafiante… a vários níveis. Todos sabemos.
Defendo que é fundamental racionalizar individualmente este tipo de considerações, e, como em outras áreas em que nesta fase peculiar da história da humanidade o cidadão anónimo é chamado a agir, de si dependendo o rumo dos acontecimentos a nível global, optar então conscientemente por iniciar, JÁ, as acções que mais directamente gerarão mudança.
Nesta matéria, se nada fizermos, assistiremos ao fim do jornalismo fiável, e da investigação informativa séria e independente. As nossas opiniões serão débeis… frágeis, e totalmente vulneráveis à manipulação.
Assistimos já, na actualidade, às consequências destes mecanismos, através das polémicas acções de condicionamento de resultados de processos democráticos, através da introdução de ruído informativo nas redes sociais. Estes exemplos expõem, mais do que os processos de interferência, uma assustadora permeabilidade dos eleitores a este tipo de interferência.
Contudo, se sustentarmos um sistema informativo heterogéneo e independente, manteremos o acesso a informação credível… seremos impermeáveis às "verdadeiras" "fake news".
Esta salvaguarda está ao nosso alcance, e tem um preço reduzido. É possível assinar mensalmente a versão digital de um jornal diário generalista credível por aproximadamente 6 euros. O preço médio de um menú de fast food… por mês…
pela Democracia.
Saturday, July 21, 2018
Vieira de Castro _ 75 anos
Vieira de Castro celebra 75 anos
A conceituada marca portuguesa Vieira de
Castro celebra este ano o seu 75º aniversário.
Com um percurso marcado pela combinação de
experiência e inovação, e sendo autora de produtos icónicos para várias
gerações, a Vieira de Castro dedica o ano de 2018 à realização de um conjunto de
acções comemorativas desta data.
As celebrações tiveram início no dia 21 de Março, com um concerto comemorativo dedicado, na Sala Suggia – na Casa da Música, no Porto.
Na comemoração estiveram presentes os actuais e anteriores colaboradores, familiares, parceiros e amigos…
Na comemoração estiveram presentes os actuais e anteriores colaboradores, familiares, parceiros e amigos…
Durante o evento decorreu também o lançamento
do livro comemorativo A História do Nosso Sabor ao qual eu tenho o gosto de estar associado, por duas vias. Por um lado o livro foi desenhado na 004, pela mão da minha colega designer Joana Miguéis. Fui espectador dos processos de nascimento e crescimento deste objecto de comunicação, do qual resultou um livro muito bonito, distinto e marcante, pelo qual a Joana e também a Sara Fortes da Cunha (nossa super produtora) estão de parabéns. Por outro lado, tenho o privilégio de ser o autor das ilustrações presentes no referido livro.
O meu trabalho, na perspectiva de uma articulação ideal com as diferentes tipologias de conteúdos patentes no livro, foi desenvolvido através de desenho a preto com coloração em tons de cinzento.
Irei mostrar aqui este trabalho ao longo das próximas publicações.
Começo, em jeito de homenagem, pela ilustração do retrato do fundador da empresa – António Vieira de Castro – 2018 seria o ano do seu centésimo aniversário.
Fundada em 1943, e sediada em Vila Nova de Famalicão, a Vieira de Castro associa à sua componente familiar – focada no espírito de equipa e numa forte proximidade com toda a estrutura – uma componente internacional marcando presença em diversos mercados estrangeiros.
A empresa constitui-se como uma referência não só em termos empresariais, mas também no que respeita às vertentes humana e social.
Sou especialmente sensível a estes dois últimos aspectos, sendo assim para mim um enorme motivo de contentamento o facto de ver o meu nome associado a um momento tão significativo da história de uma empresa com estes valores.
Friday, May 11, 2018
Verão na 004
O Verão chegou à 004!
Este boneco chama-se "Verão". Teve a sua primeira versão em 2003, e é alusivo aos fins de dia passados na praia, de costas deitadas na areia, contemplando o bailado das gaivotas contra o brutal azul do céu. Uau…
De asas imóveis, sustentando-se apenas no aproveitamento da brisa que corre lá no alto, e a partir de uma bio-engenharia de voo fascinante, que lhes permite, ora manterem-se practicamente no mesmo lugar, ora mergulharem em voos picados de curso amplo e elegante… tudo sem um único batimento de asas…
…fascinante.
O inverno foi frio e chuvoso. Fazia falta, e ainda bem que veio assim… MAS… tamanha sucessão de dias negros começava a afectar-me.
Agora é primavera, e, para o mês que vem, o dia mais comprido do ano ancorará o verão no calendário.
Como habitualmente, já demolhei repetidamente o corpo em água salgada. Este ano foi mais tarde do que nos anteriores. Fevereiro, Março e Abril não o permitiram. Os tempos meteorológico e cronológico revezaram esforços para o impedir… mas apenas conseguiram adiamentos ; )
A Patrícia sugeriu-me homenagear a estação na parede da entrada, afixando este boneco. O original de 2003 precisou de uma volta para adquirir resolução e detalhe suficientes que lhe permitissem preencher com dignidade uma área tão grande. Assim foi… redesenhar e recolorir.
A montagem do vinil esteve a cargo da mais uma vez irrepreensível OCYAN.
Wednesday, April 25, 2018
Monday, April 9, 2018
Wednesday, January 3, 2018
Hänsel & Gretel redux # 2
Wilhelm Grimm tinha dormido mal nessa noite. Acordara de madrugada, por volta das 4h00 e já não voltara a pregar olho.
Corria o inverno de 1811. Na verdade, era já Dezembro. Podiam contar-se pelos dedos de uma mão os dias que faltavam para o natal.
As noites eram gélidas… especialmente quando batidas pelo vento nordeste que, com uma habilidade estranha, conseguia entranhar-se no emaranhado de casas, e chegar inclusivamente a varrer o próprio centro da cidade.
Wilhelm não se deitara cedo na véspera. Quando o fizera estava mesmo bastante cansado. Ao entregar o corpo à cama o sono resgatara-o com alguma facilidade.
A existência alternativa enformada pelo mundo dos sonhos levara-o a deambular por bosques sombrios. Quando a sua viagem mental parecia embalada por um ritmo ameno e constante, algo tinha corrido mal… muito mal. Não tinha sido a escuridão da floresta… Wilhelm adorava os passeios de outono pelo emaranhado vegetal dos arredores da cidade, e acolhia com agrado a nostalgia que na sua alma se entranhava durante essas caminhadas… A interrupção do seu sono devera-se sim à aparição súbita da figura de uma velha bruxa que de repente se apoderara dos destinos do seu pensamento involuntário. Depois disso tinha sido impossível voltar a adormecer. Havia tentado o velho truque de procurar empurrar o pensamento para coisas agradáveis… Tentara também concentrar-se na sua própria respiração, na tentativa de se perder na abstração de tal tarefa que o seu organismo realizava sem pedir licença, e assim voltar a adormecer, mas também este truque não surtira efeito. Em desespero tentara ainda perder o seu pensamento na formosura voluptuosa de Dietlinde Hermann, a jovem professora de cravo, que habitava e dava aulas, três portas antes da de Wilhelm. Este era mesmo o último recurso de Wilhelm… e era mesmo bem provável que tivesse também contribuído para a espertina irreversível que dele se apoderara.
Quando os barulhos da rua se tornaram incompatíveis com o simples estar deitado na cama, o calor do amontoado de lençóis e mantas já não era suficiente para o prender ao leito.
Levantou-se… dirigiu-se decidido à escrivaninha que estava encostada à janela… sentou-se… Iria escrever um conto…
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