Os manos Grimm eram um bom par de psicopatas.
As suas histórias para "crianças", são compostas por personagens bizarras com comportamentos terríveis, e que acredito, devo dizê-lo, não resistiriam certamente ao crivo crítico da infância instruída da actualidade. Boa parte daquele empilhado trémulo de eventos narrativos estranhos, colapsaria perante uma breve análise de qualquer uma das nossas electro-digi-crianças do mundo de hoje.
Aquela conversa pegaria bem junto dos pequenos de inícios de 1800… sem acesso a telemóveis nem a play stations, e vivendo num mundo com muito pouca rede, ou pelo menos com sinal fraco em grandes áreas do planeta… Mas hoje em dia, não colheria créditos ao ser declamada nos nossos infantários repletos de sagazes micro-génios.
Senão vejamos:
– A madrasta ordena ao pai que se veja livre dos filhos e… ao senhor parece-lhe tudo bem. Toca de pegar nos infantes e conduzi-los até ao meio da floresta escura, para de seguida os abandonar e regressar sozinho para os braços e abraços da sua nova senhora… mmmmmmm
– A bruxa da casa de chocolate e guloseimas, frágil de velha e desprovida de visão para a maior parte das tarefas do dia a dia, avalia diariamente o patamar de engorda do rapaz engaiolado através da apalpação de um dos dedos da sua pequena mão… Contudo não se apercebe que o que lhe é diariamante estendido não é um dedo sapudo mas sim um magro e seco osso de galinha… mmmmmm
– O ganso leva os manos à vez, deixando um deles sozinho e abandonado aos perigos da floresta, enquanto transporta o outro no seu lombo… mmmmmm
– Mas o final é que é verdadeiramente surpreendente: as crianças, depois de terem sido levadas duas vezes para o meio da floresta, com o objectivo de se perderem, mortalmente de preferência (deduzo eu), tendo numa dessas vezes feito uma travessia do inferno pela mão da bruxa canibal, quando finalmente fogem, voltam para onde?… para casa do pai claro está… o tal que à noite passeia filhos chorosos pela mão com o objectivo de os tresmalhar sem retorno… Que bela escolha meus pequenos.
Idependentemente de tudo isto não deixa de ser incrível como com tantos anos e gerações passados, estas estórias ainda continuam a fazer despertar na imaginação de cada um de nós, imagens mentais tão poderosas.
A Egoísta 62 já anda por aí e a Patrícia desafiou-me para este regresso ao universo fascinante dos irmãos Grimm… Chamámos-lhe (…)redux.
(por "… mmmmmm" entenda-se a ponderação reticente e semi-silenciosa do leitor sobre o grau de credibilidade merecido pela narrativa)