Sunday, April 16, 2017
A Egoísta Política já anda por aí.
Nesta edição existe uma narrativa ficcional de Patrícia Portela cujo o título é "2084".
O título situa a acção no tempo.
Há uns meses, a propósito de um contexto totalmente diferente, escrevi neste blog:
"O caminho percorrido pelo homem-macaco, das trevas da caverna para a Luz, é longo. Muitos de nós estamos muito atrasados nesse percuso."
… Pois este texto é sobre o derradeiro triunfo do homem macaco. Trata de mais um desses retrocessos civilizacionais, buracos abissais existentes no percurso linear da história da humanidade… das trevas para a Luz.
Em 2084 venceram os homens que odeiam as pessoas. A humanidade sucumbiu às mãos de uma "Nova Ordem Mundial", referência fascinante, pela diversidade de contextos a que surge associada, quer nos discursos públicos de vários políticos do mundo (especialmente dos EUA), quer em várias teorias da conspiração (umas mais, outras menos fundamentadas). Fascinante também por ser uma designação que poderia estar associada à promessa de uma nova estrutura organizacional orientada para o bem mundial (o que quer que isso queira dizer), que tivesse do planeta um entendimento uno, e encarasse toda a humanidade como uma verdadeira irmandade, com um interesse comum, o de tudo e de todos (tão utópico quanto isso), e em sintonia existencial com as restantes entidades do planeta e, em segunda instância, do universo.
Em 2084, esta designação vê, contudo, a sua definição reivindicada pelo lado negro da força, representando na terra o domínio repressivo do mal sobre a passividade submetida do bem.
Em 2084, venceram os que convertem o tempo na mera satisfação do ego, esquecendo ou ignorando as restantes, e mais importantes, componentes da vida na terra. As alterações climáticas seguiram o seu rumo voraz, agravando-se, alimentadas pela ganância e pelo egoísmo geracional, tornando assim impraticável a vida em certas partes do planeta.
Venceram os assassinos do espírito, que dirigem toda a sua iniciativa para a materialidade, não chegando a conhecer as ligações invisíveis, que religam tudo o que existe.
Venceram os que objectificam as vidas individuais dos outros, em prol dos mais ridículos dos seus próprios objectivos pessoais. Em diversos planos fundamentais da existência os rumos seguidos convergiram para um novo e potencialmente irrecuperável período de caus.
2084 deixou para trás um longo rasto de avisos que não foram ouvidos, apesar de abundantes… Através de uma postura infantil, as sociedades ignoraram-nos, como se estes fossem impossíveis de se vir a converter em realidade. A humanidade adulta do pós II Guerra Mundial, que se dedicou à construção de parâmetros constitucionais que direccionassem o homem macaco para a iluminação, veio a dar lugar à humanidade criança, que caminha por um campo minado de alertas, sem vontade nem capacidade para os interpretar.
O mundo do pós II Guerra Mundial, que lutou pela consolidação dos direitos do homem, e da democracia enquanto sistema mais justo para a governação das sociedades, deu lentamente lugar à flacidez moral em que os seus filhos e netos tomaram a liberdade como garantida e inabalável, e encararam o voto democrático como algo desligado do universo de acção do seu dia a dia individual. Através desta falta de saúde democrática, em que o voto era encarado de ânimo leve, como algo por que não se tem que lutar no dia a dia, a humanidade matura e ávida de evolução deu lugar à humanidade infantil, que apenas queria brincar mais um dia.
Foi assim que os ditadores subiram ao poder. Foi assim que a população mundial foi submetida à grande e tirana "Nova Ordem Mundial".
Esta nova organização das sociedades encarregou-se de permitir que o primeiro mundo mantivesse o terceiro mundo bem assente no terceiro lugar do ranking, garantindo, com sacudidelas vigorosas, a continuação da mão de obra barata, da exploração exaustiva e impune dos limitados recursos terrestres, e da proliferação e continuidade das indústrias poluentes.
Foi assim que se assentuou a divisão entre o Ocidente e a Eurásia referida no texto.
A Nova Babilónia floresceu e proliferou, em 2084…
… e quando se pensava que tal não mais seria possível, o homem macaco voltou à caverna para mais um reinado de escurião.
Em Nurenbergh, um dos locais a que fiz questão de ir, foi à arena de reunião das grandes paradas do regime nazi.
Eu estive onde ele esteve... O ogre pisou aquele chão.
Lá, olhando em volta, incrédulo, pensei se naquele local ainda haveria ADN do lado mais sombrio da humanidade.
Arrepiou-me a ideia de, naquele instante, apenas o tempo (esse muro intangivel mas sólido) me proteger de estar no meio da assistência de um discurso dele.
Foi nesse momento da ida a Nurenbergh, que me baseei para caracterizar o ambiente desta ilustração.
– Decorre o discurso de um tirano absolutista, num espaço frio construído em cimento e pedra, dando forma a uma arqiutectra austera, de linhas direitas. erigida numa escala desumana... No fim, não durante, mas no fim... a chuva desaba sobre o mundo, mas a águia permanece imperturbável... sob o seu olhar gélido tudo continuará na mesma por muitos e muitos mais anos.
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