[ A vocação da Natureza ]

"Tudo começou com essa ideia de que estava deprimida. E deprimida era estar horas em frente à televisão com um pacote de gelado de formato familiar. A única coisa familiar na sua vida? O pacote de gelado. Triste, mas verdadeiro. Quase de uma banalidade aflitiva, ela que não apreciava clichés.
O gato escapou-se pela janela e dizem que o viram no passeio, estatelado, ainda a arfar. A porteira explicou tudo em detalhe e aplicando diminutivos irritantes.(…)"

Patrícia Reis

Capa "Natureza"

A EGOISTA 41 já anda por aí. O tema é "Natureza". A capa é uma "natureza MORTA". A imagem da capa é uma ilustração vectorial, construída em outline preto de traçado muito fino, sobre fundo branco. Está carregada de uma frieza quase cirúrgica. Ao folhear as primeiras páginas surge o seguinte texto:

"A natureza ainda não está morta… MAS já não lhe restam muitos anos de vida : ( "

Enquanto designer e ilustrador espero mesmo que alguém pense um bocadinho sobre isto.

Numa perspectiva meramente técnica… Esta ilustração não vale por si só. O conteúdo da sua mensagem só se completa no fim da frase citada, quatro páginas depois. Este tipo de entrosamento entre o design e a ilustração e os jogos que o mesmo possibilita são fascinantes e contribuem para um maior dinamismo de layout. A linguagem em que a ilustração foi elaborada potencia a ideia. Como já referi está carregada de frieza. O layout é cool e depurado… muito pouco natural.
Mas afinal trata-se de uma natureza MORTA… ou pelo menos de uma à qual já não restam muitos anos de vida.

[ A Varejeira ]

Assim este blog não avança… MAS é por bons motivos. Passo a explicar. Há uns meses que ando atarefado com desenhos, só que tenho por princípio não publicar online enquanto o trabalho encomendado não sair no meio para que foi originalmente concebido. Assim, existem já ilustrações de um livro (capa e miolo) e ainda algum material para uma colecção de suportes sobre higiéne e segurança no trabalho, prontinhos a colocar aqui… MAS que ainda não foram disponibilizados ao público.
Entretanto saiu mais uma EGOISTA. A n° 40. O tema é… "A CRISE". Lá pode-se encontrar "A varejeira", um belo texto de Mário Santos.

[Jordi Savall_Nave Central do Mosteiro de Alcobaça]

Eu sei… não era suposto estar aqui texto sem nenhum desenho MAS a ideia tem a ver com arte, ilustração/desenho… etc.
Ao serão de sábado 20 de Junho, na nave central do Mosteiro de Alcobaça, ouvi Jordi Savall a solo, tocando a sua viola da gamba de 1697. Foi uma pedaço de noite inesquecível (não sei dizer quanto tempo passou). O grau de intensidade desta experiência é inatingível através da contemplação de qualquer outra forma de arte, e reforçou o que tenho manifestado em algumas conversas, ou seja, que a música é para mim a forma de arte mais perfeita.
Enquanto ouvia e sentia, a dada altura pensei em desenhar acerca desse momento mas tudo o que eu fizesse seria sempre ridículo perante o que estava a experimentar. Seriam apenas bonecos…

[Quando elas se apaixonam por homens mais novos]

Ilustração de abertura de artigo.

[ Quando elas… #3 ]

Pormenor a colocar no desenvolvimento do texto.

[ Quando elas… #2]

[ Quando elas se apaixonam por homens mais novos ]

[ Surf Portugal ]

Está na banca a Surf Portugal de Fevereiro.
A interligação entre ilustração e texto introduz alguns aspectos diferenciadores entre ilustração e criação artística "pura". Logo à partida a ilustração a conceber em função de um texto, irá em conjunto com este, formar um todo que terá de se adaptar a um suporte, seja ele físico ou não (livros impressos, sites, aplicações digitais etc.). Essa adaptação levanta a questão da composição.
O ilustrador estará a defender o seu trabalho se o desenvolver considerando o patamar da composição, neste caso, da página, mantendo presente a noção de que esse trabalho irá articular-se com outros elementos como textos, títulos, pés-de-página, assinaturas etc. devendo assim ter em conta o tamanho da página, a área aproximada que terá disponível e a disposição dessa área no todo da página. O trabalho irá ao corte? em quantos lados?…
Ignorando este patamar poderá estar a complicar sériamente o trabalho de quem terá a tarefa de articular os vários elementos, comprometendo eventualmente a integridade da ilustração que executou e mais grave ainda, comprometendo a qualidade do objecto de comunicação que foi convocado para ilustrar.

[ + Papel em Branco ]

Na sequência do raciocínio anterior impõe-se colocar aqui um desenho feito com a tal uniball… mas ainda não é hoje. Até lá fica mais um bic cristal.

[ Papel em Branco ]

É curioso observar a forma como o material que utilizamos para desenhar acaba por conduzir o nosso desenho, mesmo não estando nós, à partida despertos para isso. A familiar caneta bic permite uma paleta de gradações, e como tal, uma gama de claros/escuros bastante maior do que uma uniball, muito embora a segunda produza por exemplo uma escrita mais simpática e tenha um toque mais agradável. No que diz respeito a suporte muito haveria a dizer. De facto um papel consistente, de gramagem generosa e preferencialmente com alguma textura é também diferenciador no que diz respeito ao rumo que o desenho segue.
Mas tudo isto a propósito do seguinte… curiosa mesmo é a forma como um bocado de papel branco ATRAI bonecada.