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Saturday, March 30, 2019

[ Chegou livro ; ) ]

Recebemos recentemente na 004 mais uma remessa da Norprint…
Cada envio deste nosso parceiro de produção é por nós acolhido como se de prendas se tratasse. A Norprint está, pelo rosto das pessoas incríveis que a compõem (Lopes Castro, Jorge Moreira, e tantos outros), ligada à feliz conclusão de boa parte dos nossos trabalhos. Assim, ver entrar pela porta, aquelas caixas de cartão com a mira gráfica apontada a Norte, constituinte do símbolo da belíssima assinatura da empresa, é sempre uma alegria.
Esta última remessa trouxe uma leva de livros contendo textos da Patrícia Reis e ilustrações minhas. Abri então a primeira destas caixas com uma curiosidade acrescida.
Uau… O livro está impecável. 
A impressão, como sempre… bestial.
Ao longo de 144 páginas de papel uncoated viaja-se no tempo, por uma colectânea de textos da Patrícia aos quais se encontram associadas ilustrações minhas. Algumas destas ilustrações foram concebidas para outros textos, ou para textos nenhuns, e, nesses casos, agora encontram aqui par… algumas foram concebidas há muito tempo. Alguns destes textos têm também bastante tempo… outros são muito recentes… 
…daí a viagem no tempo
Por ideia da Patrícia, e através de mais uma parceria editorial 004/Norprint surge então este volume que funciona também, um pouco como um catálogo de evoluções linguísticas dos nossos trabalhos (escrito e desenhado).
A minha primeira ilustração construída com a linguagem que actualmente mais utilizo, e que consiste em desenhar à mão livre, com caneta preta, e posteriormente aplicar cor digital, foi criada com um forte empurrão da Patrícia. Para quem a conhece, esta referência não será estranha, e saberá que está relacionada com a impulsividade desenfreada que constitui uma das características que lhe estão associadas, e que tão frequentemente dá origem a ideias e soluções loucas e fantásticas, tão incrivelmente desligadas das âncoras e grilhetas da realidade do quotidiano.
Pois então essa impulsividade desenfreada influenciou de forma decisiva o meu trabalho de ilustrador, através de um desafio (leia-se intimação), para ilustrar "Artur Leite – Pai de uma menina", texto de Agustina Bessa-Luís publicado na Egoísta nr 5, edição dedicada ao tema "Saudade". 
A dimensão da relevância deste desafio no meu percurso percebe-se, a partir do momento em que eu refiro que até então nunca tinha aplicado cor digital num desenho meu. Na verdade, até então, o meu trabalho de ilustrador estava restrito a ilustrações a preto e branco com sombreados de aguadas cinzentas, ou alguns raros exemplares de coloração com ecoline.
Ora, a ilustração que fiz para "Artur Leite Pai de uma menina" representou nada menos que, uma ruptura radical com tudo o que tinha feito até aí, e abriu a porta à linguagem que utilizei na maioria do trabalho de ilustração que desenvolvi nos 18 anos que se seguiram. Essa "r"evolução deu-se como resposta a este desafio impulsivo da Patrícia, desafio esse pelo qual lhe estou profundamente agradecido.

Ao longo destes 18 anos descobrimos que gostamos de associar talentos e produzir conteúdos em parceria comunicativa… As palavras da Patrícia comunicando com os meus bonecos, e vice versa. Para mim, um dos pontos altos desta colaboração resultou numa associação entre um belíssimo texto seu, chamado "A sopa", e uma ilustração minha datada de 2002, concebida para esse texto no âmbito da exposição "No quarto escuro", e agora repescada para as páginas 22 e 23 deste nosso livro (reproduzidas acima).
Muitas outras se seguiram… Algumas em formato de livro, outras sob a forma de pequenas BDs publicadas na Egoísta, e agora também reunidas nesta edição.
Deste livro fazem também parte duas BDs nas quais, além das ilustrações, fui também autor dos textos, exercício que me agradou imensamente, e que mais uma vez só foi possível graças à visão livre e descompartimentada com que a Patrícia encara os convites que faz para as colaborações da Egoísta. Estas duas BDs publicadas nas Egoístas "Liberdade" e "Traço", foram construídas em torno de referências visuais e textuais à existência turbulenta da alma humana. Pelo facto de me obrigarem a explorar e trazer novas vertentes para o meu trabalho, constituíram também pontos relevantes no meu percurso de ilustrador…

OBRIGADO Patrícia… OBRIGADO Norprint ; )

Saturday, March 9, 2019

[ O Flautista de Obliscor ]



"Durante toda a noite tocou a sua flauta limb. E aquela música foi-se estendendo noite adentro, como luz suave, a entrar nas casas de todos os habitantes de Obliscor. Era uma melodia um tanto hipnotizante, um tanto enigmática que parecia vir de tempos muito antigos, de um país muito distante, onde, talvez a morte nunca tivesse chegado e permanecido. Era impossível fechar os ouvidos e todo o sentir àquelas ondas sonoras tão leves e vítreas."

Excerto de um texto de Marta Duque Vaz, publicado na edição de Dezembro 2019 da revista Egoísta