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Wednesday, January 3, 2018

Hänsel & Gretel redux # 2



Wilhelm Grimm tinha dormido mal nessa noite. Acordara de madrugada, por volta das 4h00 e já não voltara a pregar olho.
Corria o inverno de 1811. Na verdade, era já Dezembro. Podiam contar-se pelos dedos de uma mão os dias que faltavam para o natal.
As noites eram gélidas… especialmente quando batidas pelo vento nordeste que, com uma habilidade estranha, conseguia entranhar-se no emaranhado de casas, e chegar inclusivamente a varrer o próprio centro da cidade.
Wilhelm não se deitara cedo na véspera. Quando o fizera estava mesmo bastante cansado. Ao entregar o corpo à cama o sono resgatara-o com alguma facilidade.
A existência alternativa enformada pelo mundo dos sonhos levara-o a deambular por bosques sombrios. Quando a sua viagem mental parecia embalada por um ritmo ameno e constante, algo tinha corrido mal… muito mal. Não tinha sido a escuridão da floresta… Wilhelm adorava os passeios de outono pelo emaranhado vegetal dos arredores da cidade, e acolhia com agrado a nostalgia que na sua alma se entranhava durante essas caminhadas… A interrupção do seu sono devera-se sim à aparição súbita da figura de uma velha bruxa que de repente se apoderara dos destinos do seu pensamento involuntário. Depois disso tinha sido impossível voltar a adormecer. Havia tentado o velho truque de procurar empurrar o pensamento para coisas agradáveis… Tentara também concentrar-se na sua própria respiração, na tentativa de se perder na abstração de tal tarefa que o seu organismo realizava sem pedir licença, e assim voltar a adormecer, mas também este truque não surtira efeito. Em desespero tentara ainda perder o seu pensamento na formosura voluptuosa de Dietlinde Hermann, a jovem professora de cravo, que habitava e dava aulas, três portas antes da de Wilhelm. Este era mesmo o último recurso de Wilhelm… e era mesmo bem provável que tivesse também contribuído para a espertina irreversível que dele se apoderara.
Quando os barulhos da rua se tornaram incompatíveis com o simples estar deitado na cama, o calor do amontoado de lençóis e mantas já não era suficiente para o prender ao leito.
Levantou-se… dirigiu-se decidido à escrivaninha que estava encostada à janela… sentou-se… Iria escrever um conto…