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Sunday, March 31, 2013

[ O meu pé de Laranja Lima ]



"Ainda tonto de dor fui arrancando a lasca da garrafa. Gemia baixinho e via o sangue se misturando com a água suja do valão. E agora? Consegui com os olhos cheios d’ água retirar o vidro, mas nem sabia como estancar o sangue.
Apertava com força o tornozelo para diminuir a dor. Tinha que aguentar firme.
Estava perto de chegar a noite e com ela, viriam Papai, Mamãe e Lalá. Qualquer um que me pegasse me batia. Podia até que cada um me pegasse em três surras divididas. Subi desorientado a barreira e fui me sentar pulando num pé só debaixo do meu pé de Laranja Lima. Ainda doía muito mas já passara a vontade de vomitar."

José Mauro de Vasconcelos, Meu Pé de Laranja Lima

Por vezes não há imagens das quais nos possamos socorrer para servir de base ao que pretendemos desenhar. Se procurarmos um enquadramento, um jogo de luz, ou um ângulo demasiado estranhos, dificilmente arranjaremos uma imagem já existente detentora dessas características. 
Se, por acréscimo o tempo for pouco, não há então outra opção, se não, recorrer ao extenso arquivo de memórias e ao simulador da imaginação para guiar a mão na geração de formas que não existiam materialmente até a ilustração estar completa. Foi o que aconteceu na ilustração acima apresentada.

Ontem, coincidindo com a única nesga de sol dos últimos dias, eu e o meu pai tivemos oportunidade de observar que as cegonhas já têm filhotes no alto dos ninhos. O que é que isto tem a ver com ilustração? … por enquanto nada. Mas no futuro nunca se sabe.

A actividade de submissão de comentários voltou a sofrer alterações… Agora chamei a mim a decisão de considerar, e publicar, ou não, os comentários submetidos. Estou então um pouco como um censor, mas espero poder assim livrar-me das mensagens publicitários travestidas de comentários. A modalidade anterior, por obrigar a um processo mais demorado, foi considerada dissuasora de participação, … o que não é de todo o pretendido. A partir de agora voltamos à versão em que deixa de ser nesseçário qualquer registo, bastando para tal escolher a opção anonymous.



[ Conto de Gabriel García Márquez ]





“Tratava-se de um siso inferior. O dentista abriu as pernas e apertou o molar com o alicate quente. O alcaide aferrou-se aos braços da cadeira, aplicou toda a força nos pés e sentiu um vazio gelado nos rins, mas não soltou um suspiro.
O dentista moveu apenas o pulso. Sem rancor, mas com uma espécie de amarga ternura, disse:
– Aqui paga-nos vinte mortos, tenente.”

Gabriel García Márquez, in Contos Completos (1947-1992)

Saturday, March 23, 2013

[ António Lobo Antunes ]


Ilustração de António Lobo Antunes e respectiva colocação no Layout, relativa a um texto do próprio, alusivo ao imaginário da sua infância.

[ Ilustração para separador ]


No final de 2012 iniciei uma nova colaboração com a Porto Editora. Foram três meses de ilustração para o próximo manual de português do 9° ano de escolaridade.
À semelhança do que já havia sucedido anteriormente foram-me colocados desafios interessantes. O que mais gostei de resolver foi novamente a adaptação do desenho aos espaços disponíveis na página. Aquilo que à partida constitui uma limitação é na verdade o motor de um exercício de criatividade que acaba por gerar soluções interessantes. Muitas vezes o espaço disponível "sugere" posturas e enquadramentos diferentes, que de outra forma poderiam não chegar a ser uma opção.